domingo, 27 de novembro de 2011

Cuidados importantes.




De todos os meu exageros, caprichos, estórias e textos que extravazam sentimentos e uma série de palavras, um tanto aleatórias, relevantes pra mim, pra deixar subentendido, nas entrelinhas, algo que qualquer um pode interpretar como quiser, mas só eu sei do que realmente se trata e no fundo alguém por aí, eu suponho que também saiba, quero confessar que hoje sinto escassa um pouco da minha criatividade pra rascunhar. Não que eu não tenha inspiração, na verdade essa sempre existe, só não sei como organizá-la.
Não que eu esteja confusa. Na verdade eu sei bem o que quero, só não sei o que dizer. Existem situações, que em determinado momento, eu já não sei mais se valem a pena.
Sabe quando seu pai te dá conselhos? Então, não sei como são os pais dos outros, mas o meu chega na porta do quarto e diz:
"Você precisa tomar uma decisão... Não acho bom que você tome tal atitude... Não gosto muito daquele fulano com quem você tem andado... Toma cuidado com tal coisa..."
Pois bem, minha consciência funciona meio assim ultimamente, segurando a onda dos tsunamis emocionais.
Sabe, depois de um final de semana parcial na casa dos meus tios, porque ficar em casa sozinha também não é muito legal, assim como estou agora, tem muita coisa em que se pensar e fazer.
Confesso que já li, comi, dormi, limpei a casa, brinquei com o Nick, assisti a dois filmes e cá estou esperando minha família voltar.
Só que na hora em que resolvo me conectar, foi dirigida a mim uma breve frase sobre a capacidade do amor.
Eu sinceramente não costumo acreditar quando coisas assim surgem de pessoas que você não espera, ou de quem você não gostaria que viesse porque é meio perturbador, mas fez com que eu pensasse. Pensasse o suficiente pra estar aqui escrevendo sobre e compartilhar que cheguei a conclusão de que o amor é frágil e precisa da nossa força.
É, isso mesmo. É o nosso esforço que o mantém.
O amor precisa da força da nossa proteção, pra que não sofra danos. A gente precisa cuidar, entende? Ou ele se vai, simplesmente se vai e talvez não haja mais outra oportunidade. O amor precisa da força da nossa coragem. Coragem de lutar, de clamar, de declará-lo, de defendê-lo, de não negá-lo, pra que ele dure, pra que ele cresça. Precisa da força da nossa lealdade. Temos que ser sinceros, íntegros com o amor, ou ele jamais poderá se desenvolver em nós ou por nós. Precisa da força da nossa fidelidade. A fidelidade gera a confiança de que as promessas serão cumpridas, a fidelidade alimenta e enriquece o amor, sem ela simplesmente não existirá.
O amor precisa da força da nossa sabedoria, pois isso vai o edificar e fazer com que ele se dissemine a outras pessoas.
O amor precisa da força do perdão. O perdão funciona como um multiplicador do amor, pois é justamente o que te faz aceitar incondicionalmente alguém, independente dos seus defeitos. As pessoas sempre falharão. Sempre seremos desapontados, sempre desapontaremos também. O perdão é a força que nos ajuda seguir em frente, levar o amor adiante e deixá-lo nos curar das magoas. Quando você libera perdão há alguém que ama, consequentemente ele cresce, pois o amor de ambos se soma.
É, o amor precisa da nossa força, precisa que a gente abra o nosso coração e mente. Não é simplesmente uma abstração emocional que deriva do coração. O amor é lógico, é racional e se você não for forte o bastante para usufruir dele, para demonstrá-lo, para usá-lo, você não o merece.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Trauma. Medo.



Às vezes eu queria dizer tudo que me vem à cabeça sim. Às vezes.
Às vezes gostaria de revelar todo sentimento escondido. Cada desejo secreto. Cada vontade reprimida. Cada palavra omitida.
Gritar. Ah, como eu queria fazer isso sempre que achasse conveniente. O problema é essa consciência que me faz perceber que quase sempre é inconveniente.
É extremamente complicado lidar com pessoas traumatizadas, sabe? Principalmente amar pessoas que sofreram algum tipo de trauma. Seja ele físico, mental, profissional, sentimental. Eu sempre penso em traumas como pancadas. Pancadas tão fortes que mesmo não sentindo mais a dor, é impossível esquecê-la. Pessoas traumatizadas se tornam tão cautelosas, atrevo-me até dizer encolhidas, assustadas, que perdem oportunidades, perdem uma vida por medo de que a pancada se repita.
Acredite, muitas vezes, o que quer que você faça não ajuda essa pessoa se libertar. É como se no momento em que a pessoa tem seu medo confrontado o cérebro emitisse um sinal de alerta a todo corpo, inibindo as habilidades motoras, sensitivas, visuais, fonéticas, afetuosas, etc. Uma espécie de bloqueio percorre a espinha, enviando sinais vitais de "perigo! perigo!".
O trauma é algo que o faz abrir mão de algo que coração te pede, mas infelizmente eles não são evitáveis. Eles simplesmente acontecem, quando você menos espera.
Ausência de segurança e confiabilidade em si próprio são características de pessoas que não abrem mão de seus traumas. Tornam-se cada vez mais retraídas, dando a dor dimensões até maiores do que ela realmente foi.
Liberte-se. Viver se prendendo há antigas cicatrizes, não irá lhe ajudar evitar alguma situação desagradável. O medo gera dúvidas. As dúvidas geram uma série de questionamentos que impedem a ação. Que culminam na perca de tudo o que poderia ter sido, e por receio não foi, deixando um rastro perturbado de si. Então no lugar da dor, você acaba com uma perturbação: "e se...".
Não deixe de tentar fazer algo por alguma vez se machucou. Não deixe de tentar uma nova oportunidade por já foi recusado em outra. Não se subestime como se não pudesse fazer aquilo que você sabe que nasceu para fazer. Não deixe de dizer eu te amo a quem precisa saber disso, porque amanhã não se sabe. Talvez amanhã não exista. E como diria o poeta "não há."

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O amor virou literalmente uma "rapidinha".




Se você me perguntar por quê eu escrevo, vou dizer que é a minha melhor forma de expressão. Escrevendo eu talvez diga coisas que normalmente eu não diria. Talvez assim eu expresse grandes verdades sobre mim e consiga colocar em ordem meus pensamentos e esclarecer meus sentimentos. Escrevo também porque gosto de criar. Gosto de entreter pessoas, confesso.
Por que estou escrevendo esse texto? Simplesmente tive vontade. Feriado chuvoso. Nada muito empolgante a se fazer. Não namoro. Não estudo mais, por enquanto. Então, dos filmes que me restaram, dos programas televisivos, nenhum amigo hoje pra sair comigo, músicas e livros que tenho por aqui, depois de esgotar todas as minhas fontes de entretenimento, tirando as guloseimas que acompanharam este dia, resolvi escrever.
Sei que algumas pessoas até esperam que eu inicie uma nova saga, uma nova novela, mas vou esperar um tempo pra falar sobre Lana e Cadu. Sim, personagens de um novo conto que você não pode perder. #propaganda.mode.on.
Enfim, hoje enquanto minha mãe arrumava a casa, daquela maneira bem peculiar que só ela tem de bagunçar tudo pra começar arrumar de novo, jogando todos aqueles papéis no chão, encontramos algumas fotos e cartões postais antigos. Ela achou o meu registro de maternidade e do meu irmão também. Nossos pézinhos carimbados naquele papel amarelado. Achou também um cartão de natal de 1984, que meu falecido avô deu a minha vó. Pela grafia dava pra perceber que ele teve dificuldades para escrever, por conta do derrame que sequelou suas habilidades motoras. Aquilo me emocionou. Ele morreu quando eu tinha 5 anos de idade, prestes a fazer 6. Não tenho tantas lembranças como eu gostaria, mas encontrar aquele cartão me fez perceber que mesmo não tendo grandes memórias, eu realmente gostaria de revê-lo.
Depois de tantos anos de casamento, depois de 12 filhos (sim, você realmente leu 12 filhos), inúmeras dificuldades, ele ainda teve a sensibilidade de escrever um cartão postal, mesmo que dentro de suas limitações, desejando felicidades e bençãos a sua mulher.
Penso que aos 23 anos de idade, quase 17 anos sem meu avô, não obtive êxito em nenhum relacionamento. Tudo bem, ainda sou jovem, mas tenho uma pequena coleção de frustrações e corações partidos.
Hoje eu olho pra um mundo sem perspectivas, conformado com a breviedade das relações conjugais, criando até mesmo legislação para regulamentar casamentos com data de validade. E acredite, logo menos, estaremos rindo para não chorar com isso. O amor hoje é como fast food, gostoso e rápido, quando acaba é só jogar as embalagens fora, colocar a bandeja em cima do lixo pra ser recolhida, afinal uma nova pessoa precisa ser servida. Só que a maioria se esquece que isso pode e acarreta sérios problemas de saúde como gastrite, intoxicação alimentar, aumento do colesterol e uma porção de malefícios. Até que você precise de um especialista que te coloque em uma dieta e proíba de fazer estas refeições rápidas. Então, logo que você se recuperar vai voltar a cometer o mesmo erro bobo.
O comprometimento só é válido até onde é conveniente nos dias de hoje. Qualquer adversidade pífia é motivo pra uma desunião, pra um desamor. Efêmero amor, este ao qual estamos habituados. Por que não dividi-lo em uma série de desventuras? Seria isso de fato amor?
Quanto mais inconsistentes são nossas relações, mais egocentristas, descomprometidos e indiferentes somos uns para com os outros.
Eu ainda acredito na importância dos valores familiares, que um casamento pode sim e deve durar até a morte, de fato. Talvez muita gente não concorde comigo dada as atuais estatísticas e até mesmo por suas experiências, mas se o amor de alguém surgir genuinamente por você, ele dura, ele vale a pena.
Eu aprendi amar detalhes, características, personalidades, atributos abstratos, não aquilo que é físico e palpável. O belo que um dia vai acabar.
Penso que seja esse o segredo. Se conseguirmos amar o que não podemos ver, mas simplesmente sentir e saber que está ali, o físico é só um complemento. Mas se continuarmos nos apegando a imagens e tudo que é físico, viveremos em um maremoto de frustrações sequenciais.
Digo isso, pois quando você descobre que ama uma pessoa só por ela ser quem é, sua ótica muda e mesmo que essa pessoa não escolha se relacionar amorosamente com você, tudo o que vai desejar é que ela seja plenamente feliz, mesmo que soe clichê.
Que Deus me ajude a amar como meus avôs se amaram.

domingo, 13 de novembro de 2011

Eu dia. Eu clima.

As vezes me ponho a decifrar o quão (in)certos são meus planos. Faço. Com a mesma facilidade, desfaço. Não há como prever.
Um dia devo ensolarar. Noutro chover. Sou garoa, chuvisco, chuvarada, raios, relâmpagos, trovões.
Nada vejo, sou neblina. Se algum dia fui tornado ou furacão, percebo pela quantidade de coisa alheia que carreguei comigo involuntariamente.
Nuvens cinzentas cobrem o céu. Então forte faço surgir uma rajada de (in)vento, que sopra do meu mar para minha terra e leva embora o escuro, que bloqueia meus brilhantes raios. Aqueço o dia. Ilumino sorrindo. Se esquento demais, chovo de leve. Meus raios passam por entre os salpicos gotejados de água, exibindo o oculto arco-íris que está lá, embora raramente visível.
Entendo que anoitecer também é preciso. Então vago inconsciente por estas horas sombrias. Só sei que logo a manhã volta pra eu nascer-do-sol. Seguindo o cotidiano ciclo, sei que eu devo pôr-do-sol, e, antes de me esconder por de trás do meu mar, você terá de contemplar toda a minha beleza, que envolve vermelhos e amarelos, fundindo-se em um belo tom alaranjado, que contrasta com o azul e te encanta, embora nem sempre você me queira notar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ana e Marco. (Parte 21) Final! (Season Finale)


Satisfeita com a minha entrada, afinal, eu não era tão exímia bailarina assim, olhei para a platéia procurando o olhar de aprovação de Renato. Foi então que fiquei completamente imóvel. Era como se eu sentisse frio e calor ao mesmo tempo, como se meu corpo estivesse formigando, o calafrio começou se espalhar pela minha espinha e pela minha barriga. Não podia acreditar em quem eu estava vendo. Gerrard, o bailarino que interpretava o par romântico de minha personagem, se aproximou para fazermos o levantamento, mas eu permaneci imóvel, encarando Marco, que sorria pra mim da platéia.
"Ana, o que foi?" Perguntou Renato, mas eu não consegui responder. Era como se eu estivesse em choque.
"Ana?" Ele repetiu com força, não gritando, só em um tom firme e bem audível.
"Desculpe, acho que fiquei um pouco tonta." Respondi atordoada.
"Eu te amo!" Gritou, Marco. Ele correu até uma das extremidades do palco e subiu.
Todos ficaram espantados, sem saber muito bem o que estava acontecendo.
A medida que Marco vinha a passos apressados em minha direção, meu coração pulsava com tanta força, que eu pensei que fosse perfurar meu peito.
"Marco, o que..."
"Eu vim só pra te dizer isso. Eu amo você." Ele me interrompeu. Eu sacudi a cabeça, tentando assimilar tudo aquilo, então ele continuou: "Eu sei que parece loucura, mas eu iria enlouquecer se deixasse você sair tão fácil assim da minha vida, só porque nunca tive coragem de dizer isso até agora."
"Marco..." Eu não conseguia dizer nada. Olhei para baixo desviando o olhar do dele, coloquei as mãos na cintura, respirei fundo. Senti as lágrimas transbordarem em meus olhos, em seguida escorrendo pelo meu rosto.
Marco levantou meu rosto para cruzar nossos olhares novamente, enquanto enxugava minhas lágrimas com suas mãos. Via Renato embasbacado, assistindo tudo ali debaixo, bem no pé do palco a nossa frente, com um braço cruzado, servindo de apoio para o outro. Olhos arregalados, como quem quer descobrir aonde isso vai dar.
"Ana, não quero que você pense que eu vim aqui porque quero que você seja minha namorada. Eu pensei sobre todo este tempo em que nos conhecemos e cheguei a uma conclusão."
Marco pegou minha mão direita e se ajoelhou. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo, as lágrimas escorriam mais depressa, minha respiração cada vez mais ofegante. Vi os olhos dele também encherem de lágrimas. E ele disse:
"Eu não consigo imaginar Marco sem Ana. Eu quero que você seja minha melhor amiga para o resto da minha vida e, não é só isso, quero que você seja o meu amor para o resto da minha vida também. Se você me aceitar eu não te prometo um amor eterno, porque eu não sou eterno, mas prometo te amar com todo e melhor amor que houver em mim enquanto vivermos." Marco tirou do bolso de trás da calça aquele par de alianças que escolhemos juntos para ele e Rita.
Colocou em meu dedo anelar com cuidado, beijou minha mão, olhou em meus olhos e disse:
"Agora é sua vez." Sorriu, entregando a outra aliança pra mim e estendo sua mão direita.
Então eu olhei a aliança e vi que o meu nome estava gravado nela. Ele realmente havia se preparado. Coloquei em seu dedo e admirei aquela delicada circunferência, sem início, meio ou fim, como o amor deve ser. O melhor era saber que tinha o meu nome.
Olhei de volta para Marco, em um mesclado de riso e pranto.
Ele envolveu meu rosto em suas mãos e, finalmente, pude sentir o calor dos lábios de Marco se movendo gentilmente contra os meus, o seu hálito quente, sua respiração se mesclando a minha, nossos braços entrelaçando nossos corpos, o cheiro dele, o gosto, tudo era tão perfeito, tão novo, tão natural, tão ideal e podia sentir seu coração tão acelerado quanto o meu enquanto ele parava pra me olhar, com nossos rostos colados e dizer:
"Eu te amo!"
"Eu te amo tanto." Era tudo o que eu podia e sabia dizer, como se em toda minha vida, até ali, eu só estivesse esperando por aquilo.
Então eu comecei ouvir aplausos e assobios. Claro, havia perdido completamente a noção de que estávamos em ensaio, com um cast de 50 atores, fora maquiadores, cabeleireiros, produtores, sonoplastas, figurinistas, e enfim, tantas outras pessoas envolvidas no espetáculo. Tínhamos uma platéia nos assistindo.
"Champagne, Gerrard! We need to celebrate love! Go, go!"
Renato gritava enquanto todos vinham nos abraçar, e nos entregaram duas taças com champanhe para que brindássemos. Eu não ligava para o restante das pessoas que estavam ali.
Marco era tudo em que me concentrava.
"Você é louco!" Eu dizia pra ele.
"Louco eu seria em decidir viver uma vida sem Ana."
"E se eu tivesse dito não?"
"Você não iria recusar."
"Convencido. Como você podia ter tanta certeza?"
"Eu só tive fé, Ana."
Marco voltou de Londres antes de mim. Fiquei mais 1 mês lá, até o encerramento do espetáculo em Londres.
Voltei para o Brasil tão ansiosa pelo que me aguardava. Lembro até hoje de Marco me esperando com minha mãe e meu pai no aeroporto. Lembro dos abraços, dos beijos apaixonados que trocamos, das noites compartilhadas, das nossas discussões tão pífias, das nossas reconciliações que me faziam até pensar que as brigas valiam a pena, do nosso amor tão genuíno, dos nossos sorrisos, dos nossos abraços. Lembrava da nossa história, do louco pedido de casamento, que era bem mais do que isso. Meu amor por Marco só amadurecia com o passar do tempo.
Ao ver todas aquelas pessoas em pé, sorrindo e se emocionando enquanto eu passava, olhei Marco, tão elegante, tão imponente, tão lindo, com um sorriso de menino no rosto, ansioso me aguardando, enquanto eu ia me aproximando com meu pai e ele cumprimentava Marco. Em seguida me olhou eu disse:
"Filha, eu amo você!" Papai beijou minha testa e sorriu com os olhos cheio de lágrimas. "Cuide bem dela, rapaz!" Papai sorriu e deu uma piscadela para Marco.
"Pode deixar!"
Marco beijo minha mão e me conduziu até o altar. Engraçado pensar em tudo que havíamos passado. Imaginar que durante anos eu nunca idealizei a possibilidade de casar com ele, como a história se reverteu tantas vezes, mas o amor tão puro e sincero de Marco por mim me alcançou, e quando eu o senti não houve como não amá-lo. Por isso quando eu ouvi:
"Você aceita Marco como seu legítimo esposo, prometendo amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na pobreza ou na riqueza, até que a morte os separe?"
Não tive dúvidas em responder:
"Sim!" E, acredite, eu teria dito milhares de "SIMs" se pudesse.
E tão bom quanto dizer foi ouvir. Éramos agora Ana e Marco. Marco e Ana. Vivendo a dois, escolhendo os nomes dos filhos, discutindo quando Marco deixava toalhas molhadas em cima da cama, ou copos espalhados pela pia, assistindo filmes aos sábados a noite, espremidos no sofá quando não havia o que fazer, nos amando e acordando entrelaçados. Criando juntos, cantando nossas canções de amor. Rindo e chorando, nos suportando. Dançando e fazendo cócegas, brigando pelo canal de TV. Revesando na lavagem e secagem da louça. O primeiro bom dia a se ouvir, o último boa noite ao se deitar. Tão completo, tão certo, como dois corações que eram um só, como se nossas vidas houvessem sido feitas com um encaixe em que só nós dois poderíamos caber e não outro alguém.

-FIM-

Agradecimento:
Ao amigos que leram, incentivaram e me cobraram. Foi por vocês que eu concluí o conto.
As pessoas que inspiraram meus personagens.
A todos aqueles que acreditam no amor e têm fé de que é a melhor arma para edificação de um mundo melhor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ana e Marco. (Parte 20)



Andei recapitulando a minha história. Conheci Ana e gostar dela foi fácil. Gostar de Ana era fácil. Ela era talentosa, sabia me fazer rir, gostava de coisas inusitadas que eu também gostava. Entretanto, apesar de ser encantado por Ana, ela nunca me percebeu, eu também nunca quis me declarar. Ela simplesmente caiu nos braços de outra pessoa. Só me restava seguir em frente. Quando Rita apareceu, subitamente, e me salvou daquela dor que foi amar Ana em silêncio, eu realmente pensei que havia conseguido me desprender de todas aquelas emoções.
Dois anos com Rita, foi um excelente tempo pra construir boas lembranças, pra planejar um futuro, mas talvez meu erro tenho sido sempre manter Ana por perto. Eu estava tão habituado e mal acostumado a tê-la presente, que não me dei conta das proporções que o sentimento dentro de mim estava tomando. Eu simplesmente a amava. Dizia a mim mesmo que não, por muito tempo fiz isso, mas como eu supostamente poderia continuar amar por quem eu sofri tanto. Porque agora ela tinha que confessar esse amor e ir embora. Ela era perita em me magoar. Queria que o amor por ela fosse efêmero. Gostaria de dormir, acordar no dia seguinte e não pensar mais em Ana. agora ela estava do outro lado do oceano e eu aqui, da mesma forma que me senti anos atrás. Mesmo que ela gostasse de mim, o que eu supostamente deveria fazer? Eu era um tanto orgulhoso. Não conseguia aceitar bem o fato de descobrir que estes sentimentos só estavam latentes em mim, agora despontaram, até com mais intensidade do que da primeira vez, pois sem perceber eles simplesmente foram sendo alimentados por mim este tempo todo.
Agora o que me perturbava foi saber o que Ana deve ter passado me vendo com Rita. Saindo com a gente, ajudando escolher alianças. Realmente, se eu me senti machucado, posso dizer que ele sente o mesmo.
Eu, praticamente, divaga em minha mente, enquanto meu chefe falava sobre os nossos principais projetos e novos clientes. Não conseguia prestar atenção a nada.
"O que você acha, Marco?"
"Eu? Bem... Eu acho ótimo!" Eu nem ao menos sabia do que se tratava. Era melhor começar prestar atenção.
"Então, quem você acha devíamos mandar para lá?"
"Pra onde?"
"Marco, Irlanda."
"Ah, claro. Por quanto tempo?" Lá estava eu, constrangido por não ter prestado atenção, tentando disfarçar.
"Irlanda?"
"Sim, Irlanda."
"Eu indico o Julio. Ele é bem preparado pra algo assim e acredito que ele gostaria de morar fora por um tempo."
"Converse com ele e me dê uma resposta hoje. Em duas semanas ele precisa ir."
"Já? Mas eu preciso de um tempo para falar com ele saber se realmente quer isso."
"Convença-o."
Sei que não seria difícil convencê-lo a ir. Júlio era jovem e aventureiro. Era um dos mais dinâmicos e criativos da minha equipe. Ruim seria ter a equipe desfalcada, mas tudo bem.
"Marco!"
"Ei, Carlos!"
"Então, o chefe disse que se você quiser pode usar alguém da minha equipe pra não desfalcar a sua. Pensei, se você quiser a Rita."
"Ei, acho que não é boa ideia no momento. Vou ver como as coisas vão fluir e te digo."
Entrei em minha sala, sentei e me debrucei sobre a mesa, atordoado pelos sentimentos que impregnavam meu coração e tiravam minha concentração do trabalho.
Só queria encontrar a paz, a calma, recobrar a lucidez que o amor me levou, ser feliz por mim e por mais ninguém. Só que logo voltava pensar em Ana, na minha covardia de nunca ter coragem de dizer que eu a queria. Não podia culpá-la totalmente pelas minhas mágoas, afinal, eu fui omisso. Não sei o que eu esperava, que ela chegasse até e mim e dissesse que me amava? Bem, ela já fez isso. Não no momento que era oportuno, mas no mais complicado pra mim.
"Alô, Caio?"
"E aí, irmão. Tudo certo?"
"Certo. Afim de fazer algo hoje?"
"Pode ser, mas você paga."
"Você não tem nem vergonha, seu pilantra. Onde eu te pego?"
"Eu to no estúdio com o Cadu. Passa aqui!"
"Okay. Em uma hora mais ou menos te busco."
Passei no estúdio por volta das 19:40. Caio estava acompanhado de Cadu, seu colega de trabalho.
"Ei, Marco. Cadu pode ir com a gente?"
"Claro. Tudo bem, cara?"
"Tudo sim!"
"Aonde vamos?" Peguntou Caio, todo animado.
"Não sei. Pensei em irmos a algum barzinho ou restaurante aqui por perto."
"Não sei vocês, mas eu to cheio de fome." Disse o Cadu.
"Então vamos comer algo."
Paramos em uma galeteria não muito longe dali.
Eu sinceramente não estava com fome, só pedi alguma coisa pra beber, enquanto Caio e Cadu pareciam estar esfomeados.
"E aí, mano. Quando você me chama pra fazer algo contigo é porque quer conversar. Diz aí?"
"Não tenho nada pra dizer."
Caio soltou uma gargalhada. E me deu aquele olhar desconfiado.
"Vamos, Marco. Pode dizer, eu to aqui pra te escutar. O que a Ana fez dessa vez?"
"Por que você acha que tem alguma relação com ela?"
"Por que depois que você superou aquela sua ex, aquela bem cansada, sabe? Então, não estou falando da Rita, afinal, essa era linda e eu lamento que não tenha dado certo entre vocês. Mas, voltando ao assunto, depois daquela sua ex, a primeira, só a Ana conseguiu deixar você desse jeito. Você é perito em sofrer por mulheres."
"É, talvez eu seja mesmo, engraçadinho." Espremi os lábios e estreitei o olhar para Caio. Não dava pra ter uma conversa séria com ele.
"Okay! Vou falar sério agora. Sempre que você fica chateado assim, é por causa da Ana. Sei lá, parece que quando as coisas vão seguir em frente com você, ela reaparece. Acho que você nunca deixou de gostar dela de verdade."
"Então, ela foi embora. Foi pra Londres."
"Tá brincando?" Caio arregalou os olhos e ficou de boca aberta.
"Quem me dera."
"Quando ela volta?"
"Não tenho ideia. Isso se ela voltar."
"O que ela foi fazer lá?"
"Participar de um espetáculo, ao que me parece."
"Ei, você está falando daquele musical sobre as obras de Shakespeare?" Perguntou Cadu.
"Como assim?"
"É que um brasileiro, Renato Pacheco, participou de um festival sobre Shakespeare em Londres, ele fez um roteiro adaptado com uma espécie de medley entre as histórias mais conhecidas de Shakespeare e foi o vencedor. Então ele ganhou patrocínio de grandes companhias de teatro inglesas pra montar uma mega produção. Os críticos estão ansiosos pra ver."
"Renato Pacheco?" Eu indaguei, Cadu.
"É, um roteirista famoso."
"Não acredito!" Eu conheci Ana em uma festa do Renato, não sabia que eles ainda mantinham contato. Só sei que Renato tinha uma queda por ela, talvez até por isso a tenha convidado.
Caio e Cadu intercalaram olhares entre mim e eles, com expressões confusas.
"Qual o problema, Marco?" Caio perguntou.
"Eu conheço o Renato. É um velho amigo meu dos tempos de teatro."
"Você o conhece? Nossa, cara, eu admiro demais o trabalho dele. Com certeza, se tivesse a oportunidade, gostaria que ele escreve pelo menos um curta pra eu produzir."
Esse pessoal de cinema as vezes me cansava.
"É... Coincidência eu conhecê-lo, não?" Soei em um tom desanimador.
"Sim! Mas cara, quer dizer que a mulher por quem você está apaixonado está em Londres sem previsão de retorno." Cadu disse sacudindo a cabeça, tentando parecer compreensivo.
"Pois é."
"Cara, ela gosta de você também?"
"Ela praticamente se declarou pra mim antes de embarcar."
"Ela é a mulher da sua vida?" Ele disse franzindo a testa.
"Eu sinceramente não sei."
"Cara, se você acha que é, porque não vai atrás dela? Se ela se declarou, provavelmente não vai te dar um fora."
"Ir pra Inglaterra atrás de Ana? Isso não rola." Caio deu outra gargalhada. "Marco gostou dela por tanto tempo e nunca teve coragem de dizer nada, não acho que agora ele teria coragem de ir até lá e dizer o que ele nunca disse."
Meu irmão me subestimava, mas porque não ir atrás de Ana? Até que não era má ideia. O que eu tinha a perder? Não vou viver atormentado por mais um "se". Era tudo ou nada. Comecei pensar na reação de Ana quando visse que eu fui até lá por ela. Bem, se ela não me quisesse, pelo menos eu nunca havia conhecido Londres, era um pretexto. Era arriscar, mas talvez eu precisasse de algo assim. O medo de me magoar mais uma vez nunca me ajudou, parece que só gerou mais feridas, mas eu precisava ter coragem, parar de ser pessimista e pensar que assim como eu poderia sofrer uma decepção, poderia também dar muito certo. Eu precisava de um pouco mais de fé. Eu estava renegando o amor ao invés de aceitá-lo. Comecei a entender que ele não iria acontecer pra mim da forma como eu sempre idealizei, mas eu precisava reconhecê-lo e aceitá-lo da forma como me apareceu.
Enquanto Caio debatia sobre as teorias amorosas de Cadu, um tanto estranhas eu devo dizer, eu fui amadurecendo a ideia em minha mente naqueles poucos instantes que passamos naquela mesa.
"Eu vou atrás de Ana."
"O que? Tá louco, Marco? Ir atrás de mulher. É justamente isso que elas querem. Depois elas te fazem de capacho. Ir a Londres, do outro lado do mundo por uma mulher? Mano, pega leve. Nenhuma mulher vale isso."
"Eu não tenho nada a perder. O que foi que eu ganhei me omitindo tanto, todos esses anos? Nada! Se eu tenho vontade de ficar com ela, eu vou até lá. Ela deva pensar que eu estou quase me casando a essas alturas."
"Casando?"
"É, ela foi embora porque eu ia pedir Rita em casa, mas então ela se declarou e as coisas mudaram..."
"Nossa, cara... que drama complicado esse! Tenso esse triângulo." Disse Cadu, dando um sorriso irônico. "Mas eu te apoio, cara. Quando achamos que vale a pena, temos que nos arriscar, mesmo que pareça loucura."
No dia seguinte fui até a secretária do meu chefe.
"Bom dia, Helena."
"Bom da, Marco. Você quer falar com Senhor Eduardo?"
"Não, é com você mesmo. Preciso de um grande favor."
Expliquei a história toda a Helena. Ela tinha a reputação de conseguir o inusitado. Então pedi pra ela correr atrás do visto pra mim, de passagens e tudo o mais necessário pra viagem.
Em pouco mais de uma semana, Helena tinha tudo pronto. Ela entrou em contato com um cliente nosso por lá, então conseguiu com mais facilidade a documentação necessária, pois eu iria como se fosse a trabalho.
Embarquei em uma sexta de manhã, tempo nublado. O voo atrasou um pouco por conta da nebulosidade.
Assisti alguns seriados, um filme, dormi, ouvi música, brinquei com o bebezinho ao meu lado.
Finalmente cheguei a Londres. Aproximadamente 12 horas de viagem. Sair daquele avião foi uma das melhores sensações do meu ano.
Fui para hotel em que Helena tinha feito as reservas pra mim. Estava surpreso com a competência dela. Até mesmo os horários do musical ela havia me conseguido.
Coloquei minha mala ao lado da cama. Desci pra comer algo ali pelo hotel mesmo. Quando cheguei lá, já se passava das 22:00, então resolvi ficar pelo quarto. Não demorei muito e adormeci pensando que essa era a maior loucura da minha vida. Até ri sozinho, porque talvez assim eu estivesse me permitindo viver uma única vez, e independente do que acontecesse, ela ia saber de uma vez por todas o quanto eu a amei, o quanto eu a amava e o quanto poderia amar se ela me permitisse.
Acordei cedo. Não tive dificuldade de me adaptar ao fuso horário. Pedi que o café fosse servido em meu quarto mesmo. Tomei banho, me arrumei e saí.
Peguei um dos táxis em frente ao hotel para o teatro. A bilheteria ainda não estava aberta. Era muito cedo. Então resolvi andar ali pelo centro da cidade. Caminhando pelo quarteirão do teatro quando eu ouvi:
"Unbelievable! Marco?" Olhei para o lado e lá estava Renato. Não dava pra acreditar. "Cara, de todas as pessoas que eu poderia encontrar aqui, nunca imaginei você!"
No meu caso, eu já imaginava que poderia encontrá-lo, mas não era surpresa.
"Ei, Parabéns pelo espetáculo."
"E o que você faz aqui?"
"Eu? É... Eu... eu vim a trabalho." Gaguejei um pouco, eu era péssimo em mentir assim.
"Ei, tá com muita pressa?"
"Não!"
"Então entra aqui pra ver nosso ensaio. Vai ser bom ter um amigo com quem conversar em português além de Ana."
"Ah, você sabia que ela faz parte do musical?"
"Ela comentou. Fiquei feliz pela oportunidade que você deu a ela."
"Ana, além de linda, é excelente quando atua."
O espetáculo estava no Teatro Haymarket. Um dos teatros mais sofisticados de Londres. Fiquei impressionado com a infra estrutura do lugar.
Sentei-me sozinho na sexta fileira do meio. De frente ao palco, naquela imensidão de cadeiras vazias. Renato se sentou um pouco mais a frente.
Foi então que todo elenco entrou, fazendo o número de abertura do musical.
Após todos saíram de cena,  do canto esquerdo do palco, em um gracioso e clássico grand jeté, Ana surgiu.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Rita e Marco. [Ana - Ausente] (Parte 19)


"E aí? To te esperando!"
"Rita, mil desculpas."
"Acho que a gente precisa conversar. O que está acontecendo, Marco?"
"Não sei. Realmente precisamos conversar."
"Pois é. Você ainda vem?"
"Eu estou indo já."
"Estou esperando."
Desliguei o telefone e não consegui disfarçar minha frustração.
"Argh! Que raiva, vó! Que raiva!"
Joguei-me sobre o sofá, apertando uma almofada contra o corpo e bufando.
"Calma, Rita! O que foi?"
"O Marco, seu queridinho."
"O que tem o Marco?"
"Não sei, vovó! É justamente o que eu quero saber. Nos últimos meses ele anda tão estranho... Não liga, não fala muito, é frio, parece estar fora do ar, se esquece dos combinados."
"Minha filha, já conversou com ele sobre isso? Talvez ele esteja passando por um problema sério!"
"Ah, vó! Sinceramente, não sei se ele gosta mais de mim."
"Oh, minha netinha!"
Vovó se sentou no braço do sofá ao meu lado, estendeu seus braços e me puxou para seu abraço. Não pude conter o choro.
"Filha, vocês precisam se resolver. Nem sempre o amor é do jeito que nós gostaríamos que fosse. Por mais que você goste de Marco, ou que ele seja uma boa pessoa, você não pode estar em uma relação que te faça mal."
"Eu sei vó, mas eu realmente pensei que agora as coisas estavam indo bem."
"Ah, Ritinha. Não é porque o desfecho da história não é como você pensou que as coisas não vão ficar bem. Seja feliz por si mesma, minha querida, encontre um homem que só multiplique essa felicidade."
"Obrigada, vovó! Eu amo você!" Ergui o rosto e encontrei um sorriso de conforto em meio ao pranto. Vovó beijou minha testa e respondeu:
"E eu te amo demais, meu amor."

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Cheguei ao prédio em que Rita morava. Seu Jair, o porteiro, já me conhecia.
Abriu a porta e estendeu a mão por entre a janela da guarida para me cumprimentar.
"Ei, Marco! Tudo bom?"
"Tudo bem, Seu Jair. E contigo?"
"Bem também!"
"Deixa eu correr lá, se não a mulher vai ficar brava comigo."
"Vai lá, Marcão!"
Rita morava no sexto andar. Entrei no elevador e tentei pensar no que dizer. Como explicar. Sei que eu andava meio estranho com Rita. Que as coisas já não eram mais do mesmo jeito. Sabia que havia sido a gota d'água dessa vez. Ela iria querer explicações e, mais do que isso, que eu fosse honesto.
Confesso que fiquei apreensivo em tocar a campainha, hesitei um tanto. Não sabia bem como seria o desenrolar desta conversa. Não que eu não gostasse de Rita, mas só conseguia pensar em Ana. Não era mais a mesma coisa.
Tomei coragem e toquei. Logo ouvi passos vindo em direção a porta e a maçaneta girar.
"Marco." Meu nome nunca soou tão triste em seus lábios. Ela me abraçou ali na entrada de seu apartamento mesmo. Ficamos um tempo naquele abraço, eu apoiando meu queixo sobre sua cabeça, que repousava em meu peito. Então eu disse:
"É melhor entrarmos." Ela assentiu com a cabeça. Entramos de mãos dadas.
Dona Carmem bordava em uma cadeira na varanda, aproveitando a luminosidade o sol daquela manhã. Fui até lá cumprimentá-la.
"Olá, Dona Carmem."
"Marco, querido!" Ela deu aquele sorriso totalmente cativante, não pude deixar de sorrir em retribuição a sua simpatia.
"Tudo bem com a Senhora?"
"Tudo bem, filho. E você?"
"Bem, Dona Carmem."
"Ótimo! Espere que ambos continuemos assim."
"Eu também!" Ela sorriu afetuosamente mais uma vez, e claro que instantaneamente eu sorri de volta.
Rita me puxou para seu quarto. Sentei em sua cama, encostando-me na cabeceira. Ela veio e se acomodou junto a mim. Passei o braço por suas costas, trazendo a mais para perto, e beijando seus cabelos.
"Marco, o que está acontecendo com a gente?"
"Não sei."
Ela balançou a cabeça, que estava repousada sobre meu ombro.
"Seja sincero. Eu sei que está acontecendo algo que você não quer me contar."
"Ah, Rita..." Respirei fundo, tentando encontrar as palavras corretas. Procurando os eufemismos mais sutis que eu pudesse usar.
"Sabe o que machuca? É você não ter coragem de me dizer. Somos adultos já, precisamos ser honestos se quisermos que as coisas fiquem bem entre nós."
"Rita, eu nunca quis te machucar."
"Ninguém machuca alguém de quem gosta propositalmente. Eu acredito que você goste de mim, mas sei que já não há toda aquela intensidade e não sei o que você realmente quer comigo. De uns meses pra cá, você mudou muito."
"Desculpa, eu sei que preciso melhorar, mas as coisas não estão fáceis."
Ela se desencostou do meu corpo e olhou em meus olhos.
"Chega de se desculpar, Marco. Eu quero só que você diga o que está se passando."
"Já disse que as coisas não estão fáceis, é complicado."
"Não estão fáceis, como?" Ela me olhou franzindo a testa.
"Não estão fáceis aqui." Coloquei a mão sobre o lado esquerdo do peito.
Rita afagou meu rosto e colocou sua mão sobre a minha mão repousada no peito.
"Rita, hoje eu... eu fui atrás de Ana." Ela afastou as mãos de mim e arregalou um tanto os olhos. Percebi seus olhos se estreitarem, a testa franzir. Um semblante de inconformismo começava se modelar em seu rosto.
"Mas não é nada do que você pensa. Ela foi embora, sem nem ao menos me avisar. Foi pra Londres."
"O que isso tem a ver com a gente, Marco?"
"Já fazem quase 3 meses que eu e Ana estamos praticamente sem nos falar. Eu... não sei o que dizer mais."
Eu olhei para baixo e chacoalhei a cabeça, pensando no que eu estava fazendo e porque eu estava fazendo. Por que esses dramas de amor tão clichês, com falas repetidas, depreciação sentimental, altos e baixos, faziam parecer que eu andava em círculos?
Parece que todas as perspectivas de finalmente ter uma vida tranquila quanto estas questões do coração, escorriam por entre meus dedos e eu estava voltando a estaca zero.
Rita colocou a mão sob meu queixo e levantou minha cabeça, para encontrar meu olhar perdido novamente.
"Marco, você ainda gosta dela, não é mesmo?"
Eu não consegui responder. Eu tinha um bloqueio para responder perguntas tão diretas, pois eu sabia o quanto isso a machucaria.
"Rita..." Eu segurei sua mão entre as minhas. "Não sei o que está acontecendo comigo. Não posso negar que eu estou triste com a ida dela, mas não sei posso fazer outras afirmações além desta."
"Não sabe? Sinceramente, Marco, ou você começa ser honesto consigo mesmo, porque não é a mim a quem você está enganando. Omitir só vai piorar as coisas."
"Rita, não sei se posso mais fazer isso."
Rita se levantou da cama e foi até a janela. Se virou de costas pra mim, cruzou os braços e ficou olhando para fora.
"Eu não quero que você se magoe mais comigo. Sei que não tenho sido bom pra você nos últimos dias." Levantei e fui até ela. Repousei as mãos sobre seus ombros. Ela levantou os ombros rejeitando meu toque e indo para outro canto do quarto, longe de mim, sem me encarar.
"Eu preferia não ter te conhecido." Percebi a melancolia em seu tom. A voz tremula. Certamente ela estava chorando.
"Rita, eu nunca quis que as coisas chegassem a esse ponto. Não significa que eu não tenha te amado, ou que eu não te ame... é só que..."
"É só que você nunca conseguiu esquecer Ana de verdade. Você nunca vai olhar pra mim como olha pra ela."
"Não é bem assim!"
Ela se virou para mim, então eu pude ver suas lágrimas, sua frustração e aquilo acabou comigo.
"Então é como, Marco? Você sempre fez muita questão dela. Ah, como eu fui burra ao me envolver com você!" Até agora, eu nunca tinha visto Rita com raiva, nem gritar. Percebi a besteira que eu havia feito.
"Eu nunca quis que ninguém se machucasse. Você pensa que eu estou feliz? Que eu não dou importância a tudo que está acontecendo? Eu realmente gosto de você, mas as coisas mudaram e eu me sinto tão atormentado com tudo isso."
"Ana teve todas as chances com você. Agora ela resolve se declarar e fazer todo esse "draminha"
pra chamar tua atenção e consegue."
"Ela não fez nada pra chamar minha atenção. A culpa de tudo isso não é dela, é minha. Só minha! Não tente encontrar outra desculpa."
Rita começou a soluçar e chacoalhou a cabeça.
"Por que, Marco? Por que?"
"Eu não sei. Quem consegue entender o coração? É como se não houvesse diálogo entre ele e a razão."
"Eu pensei que nós até chegaríamos longe... sabe?"
"Ah, eu também pensei. Acredite!"
Fui até Rita e a abracei.
"Por favor, me perdoa? Eu queria tanto que as coisas fossem como antes. Eu nunca te enganei."
"Eu sei." Era tudo o que ela conseguia pronunciar em meio ao choro.
"Agora nós voltamos a estaca zero. Sozinhos de novo."
Rita se afastou e me olhou enxugando as lágrimas.
"É melhor você ir embora."
Eu estendi a mão em direção a seu rosto para ajudá-la com as lágrimas. Mas novamente ela rejeitou.
"Não posso ficar por mais tempo perto de você. É melhor você ir de vez."
Aquilo partia meu coração, mas eu também não podia ficar ali.
"Então... é isso?"
"Pra mim poderia ter sido muito mais, Marco. Preciso ficar sozinha."
"Tá bem."
Eu saí do quarto e uma súbita tristeza invadiu meus sentidos. Agora eu não tinha Ana, não tinha Rita. Não tinha nada. Nem se quer perspectivas, só duas alianças e uma saudade. Saí de lá sob a companhia da solidão que só gerava mais solidão. O cheiro de Rita e de Ana misturados em minha camisa. De tudo, o ninguém e meu ego foi o que sobrou.


sábado, 5 de novembro de 2011

Ana... Marco... Rita... (Parte 18)


Abri os olhos. Um de cada vez. Despertado pela claridade que invadia meu quarto, através da janela que esqueci aberta.
Estava deitado de bruços, com um braço estendido pra fora da cama, quase tocando o chão.
Fechei os olhos, sentei na cama, dei uma boa espreguiçada. Levantei e peguei o celular sobre minha escrivaninha para ver a hora. 9:57. Lembrei que o voo de Ana partia às 11:30. Coloquei a primeira camiseta que encontrei em minha gaveta, vesti a minha calça jeans jogada sobre a cadeira e saí correndo. Quando entrei no carro e me vi no retrovisor, fui obrigado a descer e voltar ao banheiro. Se ao menos quisesse convencer Ana a ficar, devia estar apresentável. Lavei o rosto, não dava tempo de tomar banho. Escovei os dentes e ajeitei o cabelo com as mãos. Passei o Kenzo Air que Ana havia me dado de presente de aniversário. Ela dizia que era seu perfume preferido, pois quando alguém te abraça não esquece o cheiro.
Acredito que nunca me arrumei tão depressa assim, não que eu demorasse tanto, mas fui realmente rápido. Corri para o carro, saí o mais rápido que pude. Meu plano era fazê-la mudar de ideia. A única coisa na qual me concentrava naquele momento, era impedir sua ida. Não estava me importando com o que iria acontecer depois. Não medi as consequências, talvez pelo desespero de que se ela partisse, eu iria ter de aprender viver sem ela. Tudo bem que nós estávamos sem contato há quase 3 meses, mas eu sabia que ela estava por perto e, na minha cabeça, mais cedo ou mais tarde, ela voltaria falar comigo. Só que Ana queria um oceano inteiro de distância de mim. No caminho até o aeroporto cogitei até não procurá-la mais se ela dissesse ficar. Ao menos eu poderia olhá-la de longe, sem que ela soubesse.
Cheguei ao aeroporto às 10:42. Corri para ver no painel o portão de embarque do voo de Ana. Corri com a esperança de que ainda conseguisse falar com Ana, de que ela ainda, por um acaso, estivesse fora do saguão de embarque.
Ouvi o anúncio de que o embarque para o voo já havia começado, enquanto eu estava na entrada do saguão.
"Ei, amigo!" Eu disse para o funcionário que estava na entrada.
"Pois não?"
"Eu preciso muito falar com uma amiga minha que vai pra Londres. O voo dela parte daqui a pouco, as 11:30, e se ela for embora, eu não vou ter outra chance."
"Olha, senhor..." Ele me disse franzindo a testa."Desculpe, mas o embarque para este voo já começou."
"Deixa eu ir até lá, por favor!"
"Desculpe, mas o Senhor não pode entrar. Infelizmente não posso ajudá-lo."
"Você pode pedir pra alguém me acompanhar. Não vou fazer nada demais, só preciso muito falar com ela."
"Senhor, ela já deve estar dentro do avião. Não posso deixá-lo entrar. Não insista."
"Droga!" Chutei o chão, levando as mãos a cabeça. Corri até ali pra nada. Minha tristeza se fundiu a raiva, eu queria gritar. Queria quebrar tudo aquilo que via pela frente, mas de que me adiantaria? Nada adiantaria. Nada traria Ana de volta. Nada faria com que eu me sentisse melhor.
Quando meu mundo desmoronou, quando eu não sabia mais como reagir eu ouvi meu nome:
"Marco?"
Lá estava ela. Pra variar, tremendamente atrasada. Naquele momento anunciaram a última chamada para o embarque daquele voo.
"Ana!"
"Se você veio se despedir seja rápido, como você pode ver, estou atrasada."
Sabia que não podia perder tempo, tinha de ser direto.
Fui até Ana, segurei seus braços e olhei em seus olhos.
"Por favor, não embarque."
"Já é muito tarde pra esse seu pedido."
"Por favor! Se for por minha causa, não vá. Eu prometo ficar longe de você, mas pra outro país? Não! Ana, fica."
"Não tenho motivos pra ficar aqui."
Era patética minha tentativa de convencê-la. Não tinha bons argumentos, e como estava em um relacionamento com Rita, não podia simplesmente fazer uma declaração amorosa.
"Você tem sua família, seus amigos, a empresa."
"Eu já cuidei de tudo isso, Marco."
"De todos eles, mas e eu?" Disse em um tom melancólico.
Ana balançou a cabeça, moveu os lábios como se fosse dizer algo, levou a mão a cabeça e desviou o olhar do meu.
"Eu não posso fazer nada a seu respeito."
"Por que você não me contou?"
"Porque você iria fazer justamente o que está fazendo agora. Tentar me impedir."
"Claro que não!"
"Claro que sim! Eu te conheço. Marco, honestamente, por que você quer que eu fique?"
Ela apertou os olhos e me encarou de uma maneira que fez parecer como se pudesse ler minha mente. Eu sabia o que ela gostaria de ouvir, mas eu não podia dizer.
"Eu preciso de você, Ana."
Foi o melhor que eu pude fazer pra convencê-la.
"Por que precisa de mim? Você pode se virar sem mim."
Eu fiquei mudo. Eu queria dizer, mas não podia. Não devia. Aliás, não devia estar ali. Vi uma lágrima se formar no canto do olho esquerdo dela. Ana levou as mãos aos olhos e enxugou as lágrimas antes que escorressem.
Ela veio em minha direção, se ergueu na ponta dos pés e beijou minha bochecha.
Senti o perfume de Ana, como há tempos eu não sentia. Senti o calor dela, o frio na barriga com a aproximação. Todas aquelas sensações voltaram e eu resistia a todos os meus impulsos.
Então ela sussurrou em meu ouvido.
"Adoro quando você usa esse perfume. Adeus, Marco. Eu amo você."
Ela entregou seu bilhete de embarque aquele rapaz que não me ajudou muito, mas isso já não importava.
"Eu te amo, Ana." Proferi em um sussurro quase que inaudível quando ela se virou para me olhar tão triste já do outro lado, e eu a assistia caminhar com sua mochila nas costas. Então senti meus olhos marejarem, o nó se apertar na garganta e o estomago embrulhar.
Então meu celular tocou.
"Alô?"
"Marco, onde você está?"
Era Rita, a quem eu havia prometido ligar e ver pela manhã, mas havia esquecido completamente.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ana... Marco... Rita... (Parte 17)


Já se passaram quase três meses desde a última vez que vi Ana.
Levei Rita para jantar em uns 5 restaurantes diferentes e não consigo pedi-la em casamento. Fico andando por aí com essas alianças no bolso. Olhando pra elas e pensando no meu futuro tão certo, tão incerto.
Tentei ligar pra Ana. A recusa as minhas ligações e a falta de retorno a emails e mensagens interpretei no começo como falta de tempo. Agora eu sei que ela falou sério quando disse para não procurá-la.
Por que Ana tinha que dizer a essas alturas que me amava? Como ela se sentia no direito de me confundir outra vez?
Já estava há quase dois anos com Rita. Ela era ótima comigo e eu realmente achava que era hora de dar o próximo passo.
Lembro de assistir minha mãe interagindo com Rita e com Ana. Minha mãe tratava bem, Rita, mas de Ana ela realmente gostava.
Meu celular começou a tocar. Eu precisava atender, mas eu queria só ficar sozinho com meus pensamentos. Conversar comigo mesmo e tentar me decifrar.
"Alô?"
"Oi, amor. Tudo bem? Não me ligou hoje." Disse Rita, em um tom perturbado.
"Tá tudo bem sim. Hoje foi um tanto corrido, to com bastante dor de cabeça. E com você?"
"Eu estou bem. Senti sua falta!"
"Eu também." Pela primeira vez eu disse algo assim só por falar, porque é o que se espera ouvir quando alguém te diz isso, principalmente se tratando da sua namorada, ou da mulher a quem você possivelmente pretendia pedir em casamento.
"Eu estive pensando se você não queria passar aqui e..."
"Rita, eu estou meio cansado. Preciso dormir um pouco. De verdade! Desculpa, tá?"
"Está tudo bem realmente?"
"Tá, eu só to com muita dor de cabeça. Preciso dormir um pouco, eu acho. Logo passa. Amanhã cedo eu te ligo." Eu realmente estava com dor de cabeça, mas não era tão forte assim.
"Ok, então. Vou deixar você descansar."
"Desculpa mesmo."
"Tudo bem, espero sua ligação pela manhã."
"Eu prometo. Promessa de mindinho!"
Ouvi o riso de Rita do outro lado.
"Amo você!"
E agora, o que eu respondo? Que amo ela? O que foi que Ana fez comigo? Não posso estar apaixonado por ela outra vez. Não posso, não posso!
"Amanhã te ligo e passo por aí cedinho, tá bem?" Tentei desconversar e envolvê-la em outro assunto.
"Vou te esperar. Beijo, amor."
"Beijo."
O que estava acontecendo comigo? Eu queria ver Ana, quando deveria querer estar com Rita. Que tipo de homem estou me tornando?
Dispensar minha linda namorada em uma sexta-feira a noite, sem nem ao menos passar das nove.
Não conseguia parar de pensar em Ana e sentir remorso por Rita. Resolvi ligar na casa de Ana.
"Alô?"
"Alô? Dona Martha?"
"Quem fala?"
"É o Marco."
"Marco! Que saudades de você! Nunca mais apareceu por aqui. Como você está, meu querido?"
"Eu estou bem, Dona Martha. E a senhora?"
"Bem, Maco!"
"Então, será que eu poderia falar com a Ana?"
"Marco, ela não está em casa agora. Saiu com alguns amigos do elenco."
"Elenco?"
"Você não está sabendo, Marco? Ana vai participar de um musical em Londres. Provavelmente ficará mais de um ano pela Europa, por conta da turnê."
"Ela vai embora? Quando?" Percebi o quão emergente minha voz soou e tentei me controlar.
"Ela parte amanhã, filho."
"Que horas?"
"As 11:30."
"Dona Martha, você pode dizer que eu preciso falar com ela urgente? Antes que ela vá de preferência."
"Claro que digo!"
"Obrigado!"
"Mande lembranças a sua mãe!"
"Sim, farei isso. Até mais, Dona Martha."
"Até, Marco."
Como ela podia partir assim, sem dizer nada? Se fosse definir meu estado, diria estar em choque. Tudo bem que ela pediu pra eu me afastar, mas ao menos merecia saber sobre isso. Ela iria embora amanhã. Um dia a menos, eu ligaria e descobriria que ela já estava em Londres. Por que as coisas tinham de ser tão complicadas pra nós.
Deitei em minha cama, olhando aquele par de alianças que perambulavam comigo por aí. E adormeci, pensando em Rita, pensando em Ana, e em quem eu deveria amar de fato, sendo que eu já amava a quem talvez eu não devesse amar.

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"Ana, Marco ligou."
"E?" Dei de ombros, fingindo não me importar.
"Disse a ele que você está indo embora amanhã."
"Mamãe, eu havia dito a senhora para não contar!" Minha voz ecoou estridente e agressiva.
"É injusto com ele. Você devia ouvir como ele ficou arrasado."
"Mãe, eu não me importo. Arrasado? Com certeza ele não está! Marco vai se casar em breve."
"Mas minha filha, vocês tinham uma amizade tão bonita!"
"Tínhamos, mamãe. Só que essa amizade não dava certo."
"Não dava certo por que, Ana? Você sempre foge de tudo aquilo que não tem coragem de encarar."
"Eu não estou fugindo. Só não sei se consigo ver ele se casando."
"Filha, você realmente gosta dele, não é?"
Fechei os olhos tentando retardar a força das lágrimas que voltavam a encher meus olhos, sempre que a ferida desse sentimento era cutucada. Joguei o peso do meu corpo no sofá, enquanto me rendi a tristeza daquele momento.
Minha mãe se sentou ao meu lado. Deitei em seu colo, enquanto ela acariciava meus cabelos e dizia que tudo ficaria bem.
Ela me convenceu a tomar um banho e ir pra cama.
Deitei pensando em Marco, e que já era tempo de deixar esse amor de lado, embora eu ainda o desejasse ardentemente.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ana, Rita e Marco. (Parte 16)



O que é que você faz quando gosta de alguém e não sabe como dizer? O que você faz quando gosta de alguém e as vezes sente que é correspondido e em outros momentos não?
Complicado é lidar com o coração, principalmente quando você sabe que há a oportunidade de ser feliz de verdade, mas a incerteza do alheio te impede de agir como gostaria, pois o coração corre o risco do que mais teme quando se expõem: rejeição. Rejeição, como machuca.
Agora eu entendo Marco. Sentir, ver, ouvir, sorrir, pensar, tocar e não poder fazer o que você mais gostaria de fazer, amar explicitamente. Agora eu sei, desde o começo eu deveria tê-lo amado. Quando ele me ligou dizendo que iria pedir Rita em casamento, eu fiquei em silêncio por algum tempo, tentando conter o nó na garganta, que se desataria no momento que eu proferisse qualquer palavra. Respirei fundo.
"Eu... Eu fico feliz por vocês!"
"Então, você me ajuda escolher uma aliança?"
"Marco, eu ando meio ocupada com uns projetos ultimamente e..."
"Vamos, Ana! Por favor, preciso de você nesse momento. É importante pra mim!"
"Marco, não sei se tenho o mesmo gosto de Rita!"
"Ana, por favor! Sei que vocês mulheres não tem o mesmo gosto, mas sabem sobre os gostos umas das outras. Ajuda seu velho amigo aqui, seja uma boa madrinha!"
Madrinha? Eu entrei em pânico. E como eu supostamente diria não? Ter de ir ao casamento de Marco, assisti-los no altar, fazendo votos de amor eterno, sem poder fazer nada, além de desejar a felicidade dos dois, celebrar e sorrir. Era demais até pra mim. Nunca fui adepta de dramas amorosos, mas ultimamente, talvez a melhor solução fosse deixar o amor de lado.
"Tá bem!"
"No fim da tarde eu passo pra te buscar!"
"Okay!"
"Ei, obrigado!"
"Não é nada que você não faria por mim!"

"Ei, o que você acha dessas alianças?" Marco perguntou apontando um par de alianças em ouro amarelo, com bordas em ouro branco.
"São lindas..."
"Você acha que ela iria gostar?"
"Sinceramente, ela gostaria de qualquer coisa que você desse."
"Tá tudo bem, Ana?"
Eu virei o rosto para não encará-lo e vi um par de alianças em ouro amarelo simples, tradicionais, grossas, mas nem tanto, só o suficiente para serem notadas.
"Aquelas ali!" Eu sinceramente não apontei pensando no que Rita gostaria, mas sim nas que eu escolheria se fosse pra mim. Óbvio que ela também iria gostar daquelas, então não achei que haveria problema.
A vendedora colocou alguns pares sobre a bancada de vidro, enquanto falava sobre as especificações de cada uma das alianças. Eu sinceramente não prestava muito atenção.
Então a vendedora pegou minha mão sem que eu percebesse pra que eu provasse uma aliança.
Eu dei de ombros e a deixei colocar justamente a aliança que eu havia indicado. Parei por alguns segundos para admirar minha mão com aquele adorno singelo e belo, pensar em como seria ser pedida em casamento, e degustei da sensação, por alguns segundos, do sonho romântico de toda mulher apaixonada se tornando real. Aquela pequena circunferência, um elo sem começo, meio e fim, assim como deveria de ser o amor, pra sempre. Vi Marco olhar minha mão com um sorriso no canto dos lábios, depois olhou pra mim inclinando a cabeça.
"Vou levar essas." Ele disse a vendedora.

Era definitivo, ele realmente iria fazer isso. Eu deveria me desvencilhar daquele sentimento de uma vez por todas.
Fomos em silêncio até minha casa. Eu não tinha o que dizer, não podia dizer, só sei que doía.
"Ana, obrigado! Foi importante pra mim ter você fazendo parte disso, sabe?!"
Eu assenti com a cabeça e sorri para ele, sem ainda conseguir pronunciar qualquer ruído que fosse.
"Ana, tá tudo bem?"
Marco, tirou o cinto e me olhou franzindo a testa. Então eu tomei coragem e disse:
"Eu não posso fazer isso."
"Fazer o que?"
"Não posso ser sua madrinha. Não quero ir a seu casamento. Eu simplesmente não consigo!"
Simplesmente falei. Eu não aguentava guardar tudo aquilo pra mim. Já era hora de ser franca.
"Ana, por que você diz isso só agora?"
"Porque eu simplesmente não consigo parar de pensar em você! Eu... não posso." Senti o nó desatar e os olhos encherem de água, então as lágrimas começaram lavar meu rosto.
"Eu sempre te perguntei se você estava bem com tudo isso!"
"Eu tentei ficar, tá legal? Tentei aceitar seu relacionamento. Tentei me dar bem com Rita. Tentei ser sua melhor amiga. Não consigo simplesmente deixar de amar você."
"Me amar? Você me ama?"
"Seja feliz, Marco!"
"Ei, Ana! Espera!"
Desci do carro antes que ele dissesse algo que fosse me machucar mais. Marco desceu atrás de mim e me puxou pelo braço.
"Precisamos conversar sobre isso."
"Conversar sobre o que, Marco? Você vai se casar. Não se preocupe, eu supero. Só fica longe, por favor."
"Ana, longe? Espera. O que você quer que eu faça?"
"Eu queria, sei lá... Voltar no tempo talvez fosse uma alternativa válida."
Marco me fitou apertando os olhos, espremendo os lábios e balançando a cabeça, como ele fazia quando não sabia o que dizer. Óbvio que ele não esperava por isso.
"Me deixa ir, Marco. Não venha atrás de mim também, por favor."
Entrei em casa, e me encostei na porta, deslizando até o chão, sucumbindo ao choro latente.
Foi então que tomei a decisão.
"Alô? Renato? É a Ana!"
"Oi, Ana! Tudo bem?"
"Tudo! E contigo?"
"Muito bem! Então, tem boas notícias pra mim?"
"Eu resolvi aceitar seu convite. Quero ir pra Londres participar do espetáculo!"