terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A tua ausência me causa, simplesmente me causa...



Não, meu bem, não há!
Não há outro oposto,
outro a quem eu queira provar.

Não, meu bem, não há!
Não há quem,
não além de você,
que eu possa comportar
em pensamentos.

É teu o amor
que fincou raízes
neste singelo coração
É teu o suspirar
que se revela
em cada enlaço
em cada palpitar

Um misto de todo bom sentimento,
de todo bom aroma, de todo bom paladar,
de toda boa canção, de todo bom pensamento.

Caminho com a lembrança da voz,
do rosto, do beijo,
do sorriso, do gosto,
do cheiro, do olhar.

Ah, que falta você me faz.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Lana e Cadu. (Parte 3)


Em uma única golada exterminei meu iogurte. Corri para o corredor, tranquei a porta e logo chamei o elevador. Cruzei o braços, pisava inquietantemente com o calcanhar no chão, ajeitei a franja e finalmente chegou o elevador.
"Ei, segura a porta."
Joguei o braço entre as portas no impulso de mantê-las abertas.
Então um rapaz alto, os cabelos desengrenhados castanhos tão claros, que quando expostos a luminosidade do sol que entrava pela janela do corredor naquela manhã, faziam parecer quase dourados. Olhos cor de mel, que ao sol também exibiam um tom de verde bem discreto. Queixo rígido, ombros largos e um tom de voz aveludado que não cansa de se ouvir.
Então ele olhou pra mim, fazendo surgir um sorriso ridiculamente irresistível, revelando aquelas covinhas tão graciosas em suas bochechas.
"Obrigado!"
"Imagina." Sem que eu percebesse, já estava retribuindo o sorriso, com uma simpatia que não era de mim. Não que eu fosse mal educada, mas não costumava ser tão simpática com estranhos.
Olhei para o painel do elevador, com uma estranha vontade de encarar novamente meu novo vizinho. Ah, sim, ele havia se mudado há mais ou menos duas semanas para o apartamento em frente ao meu, mas eu não havia visto a cara do indivíduo em questão, até o momento aqui relatado.
Aconteça o que acontecer, eu não iria olhar para ele. O que ele iria pensar de mim? Foram os 10 segundos mais longos da minha vida. Comecei a idealizar que a energia elétrica acabasse e ficássemos presos ali no elevador, assim seríamos obrigados a nos conhecer melhor e quem sabe, não é mesmo?
Pensei em simular um desmaio pra que ele tivesse que me socorrer. Não sei porque estes pensamentos começaram surgir e eu resistia a todos os meus impulsos.
Quando o elevador parou no térreo, fui logo saindo, sem sequer olhar para ele novamente.
"Moça, espera!"
Imediatamente, como se estivesse obedecendo a um comando quase que militar parei. Respirei fundo e me virei enquanto pensava sorria, sorria, seja legal.
"Meu nome é Rafael, seu novo vizinho."
"Prazer, eu sou a La... La... Lana!"
Que raiva, minha voz falhando e eu gaguejando. Ótimo, agora eu iria parecer mais boba ainda, e ele continuava com aquele sorriso pateticamente lindo.
"Prazer!"
Então ouvi a buzina do carro de Cadu, me apressando e me fazendo voltar a realidade.
"Até mais, vizinha."
Ele disse enquanto eu caminhava para fora.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Lana e Cadu (Parte 2)



Eu não era a garota mais linda do mundo, tão pouco chamava a atenção de nada além do que alguns trabalhadores da construção civil, motivo que me fazia atravessar a rua ou mudar a rota sempre que avistava uma obra logo a frente.
Não que eu fosse feia, só não era tão vaidosa como as demais mulheres. Entretanto, quando Cadu ligou, logo pulei da cama. Fato é que dele eu queria chamar a atenção, de alguma forma. Sei que pela minha criatividade não seria, afinal ele só criticava e me fazia alterar meus roteiros.
Quando me olhei no espelho com aquele cabelo, não havia tempo para um penteado mais elaborado, simplesmente os desembaracei e prendi. Lavei o rosto, escovei os dentes, e como os escovei. E o que vestir? Como seria possível uma mulher decidir o que vestir em menos de 20 minutos? Pensei em colocar um vestido, algo mais feminino, mas não haveria tempo para passar pela minha auto aprovação diante do espelho. Afinal, isso seria repensar toda minha alimentação e uma séria reflexão sobre deixar o sedentarismo de lado, rumo ao corpo escultural das estrelas globais.
Segui minha regra de que em situações extremas você deve optar pelo básico, era melhor continuar não sendo notada, do que ser notada de uma forma que eu não desejava. Vesti uma regata branca básica, joguei uma camisa xadrez de flanela por cima. Entrei surpreendentemente depressa em minha calça skinning, calcei meus converses surrados e voltei ao espelho. Maquiagem! Cadê minha necessaire? Faltavam menos de 10 minutos para Cadu chegar. Eu não a encontrava. Finalmente resolvi procurar sob minha cama, lá estava ela jogada, perto da parede. Enfiei-me debaixo da cama, peguei a necessaire e parti para o espelho de meu banheiro.
Não havia muito tempo. Rapidamente passei uma base, em seguida o blush. Não usei sombra, eram muitas cores, e opções demais faziam com que eu perde-se tempo. Passei um lápis, rímel e um brilho de tom rosado, bem discreto. Por último uma borrifada de leve do meu perfume. Juntei toda minha papelada, inclusive o roteiro que fiz a mão, coloquei em minha pasta, joguei em minha bolsa carteiro. Fiquei orgulhosa de ter conseguido toda essa proeza antes dos 20 minutos. Então senti meu estomago roncar. Claro, estava esquecendo disso. Fome! Abri a geladeira, peguei um iogurte, lavei uma maçã que peguei na fruteira e joguei na bolsa. Foi então que meu celular tocou. Pontualíssimo, lá estava Cadu.
"Lana, desce. Cheguei!"

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Introdução (Parte 1)



Eu acho que seria bobagem dizer que guardo uma caneta que ele me emprestou outro dia, só pra ter algo dele comigo. Só queria entender porque é tão difícil gostar de alguém. Por que a paixão é tão desmedida? Parece que sempre tem de ser irrecíproca. Quando você me quis, era eu quem não queria. Quando eu te quis, era sua vez de não me querer. Assim, nós vamos caminhando. Reproduzindo esse ciclo, enquanto todos os outros amores que entram e saem das nossas vidas nunca dão em nada. Nosso impasse, tão complicado, que as vezes penso que morreremos nos amando, sem coragem de admitir, ou se deixar envolver. Talvez eu mereça esse seu pensamento de que eu o vá machucar se você resolver abrir de novo seu coração. Fora suas outras opções de felicidade. Não sou do tipo que forço uma relação, muito menos do tipo que se declara e corre atrás. Não sei entender muito bem as pessoas que fazem isso.
Enfim, deixei em cima da escrivaninha meus rascunhos. Meus olhos praticamente já se fechavam sozinhos. Você deve se perguntar por quê eu não usava o meu computador. Bem, eu precisava terminar em dois dias o roteiro da peça, ou Cadu iria me matar. Meu computador simplesmente se recusava a ligar, então resolvi escrever, com a caneta que ele me emprestou outro dia, pra fazer umas correções na primeira parte do roteiro.
Meus olhos já não obedeciam o comando do cérebro, e até mesmo ele estava seduzido pelo sono.
Levantei, fui até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Pensei que talvez despertasse um pouco, mas não resolveu. Estava demasiadamente cansada, mas antes tive de arrumar a escrivaninha, não suportava dormir olhando aquela bagunça.
Mesmo semi-acordada, fui até lá, juntei todas aquelas folhas e abri a primeira gaveta quando dei de cara com meu primeiro diário.
Acredito que minha mãe deva tê-lo encontrado em algum lugar e colocado ali, pois até então não estava.
Um onda de lembranças começou a se formar em minha mente. Li umas duas páginas, mas meus olhos estavam fartos, pesados e não me deixavam resistir.
Lembro que comecei escrever justamente quando ganhei o diário, depois logo passei a criar estórias, pois era péssima pra falar sobre os meus sentimentos, então as inventava para dizer coisas que eu gostaria de dizer, mas que de outra forma eu não conseguiria tão facilmente. Hoje, havia me tornado roteirista de teatro e cinema. Algumas vezes roteirizava alguns comerciais, novelas, entre outros, mas minhas grandes paixões eram o cinema e o teatro.
Guardei minhas 8 páginas escritas a mão na gaveta onde estava o diário e me joguei em minha cama. Deixei o sono me envolver, até que o dia viesse e eu acordasse com a ligação de Cadu.
"Acorda, Lana! Estou passando por aí em 20 minutinhos."