sábado, 5 de novembro de 2011

Ana... Marco... Rita... (Parte 18)


Abri os olhos. Um de cada vez. Despertado pela claridade que invadia meu quarto, através da janela que esqueci aberta.
Estava deitado de bruços, com um braço estendido pra fora da cama, quase tocando o chão.
Fechei os olhos, sentei na cama, dei uma boa espreguiçada. Levantei e peguei o celular sobre minha escrivaninha para ver a hora. 9:57. Lembrei que o voo de Ana partia às 11:30. Coloquei a primeira camiseta que encontrei em minha gaveta, vesti a minha calça jeans jogada sobre a cadeira e saí correndo. Quando entrei no carro e me vi no retrovisor, fui obrigado a descer e voltar ao banheiro. Se ao menos quisesse convencer Ana a ficar, devia estar apresentável. Lavei o rosto, não dava tempo de tomar banho. Escovei os dentes e ajeitei o cabelo com as mãos. Passei o Kenzo Air que Ana havia me dado de presente de aniversário. Ela dizia que era seu perfume preferido, pois quando alguém te abraça não esquece o cheiro.
Acredito que nunca me arrumei tão depressa assim, não que eu demorasse tanto, mas fui realmente rápido. Corri para o carro, saí o mais rápido que pude. Meu plano era fazê-la mudar de ideia. A única coisa na qual me concentrava naquele momento, era impedir sua ida. Não estava me importando com o que iria acontecer depois. Não medi as consequências, talvez pelo desespero de que se ela partisse, eu iria ter de aprender viver sem ela. Tudo bem que nós estávamos sem contato há quase 3 meses, mas eu sabia que ela estava por perto e, na minha cabeça, mais cedo ou mais tarde, ela voltaria falar comigo. Só que Ana queria um oceano inteiro de distância de mim. No caminho até o aeroporto cogitei até não procurá-la mais se ela dissesse ficar. Ao menos eu poderia olhá-la de longe, sem que ela soubesse.
Cheguei ao aeroporto às 10:42. Corri para ver no painel o portão de embarque do voo de Ana. Corri com a esperança de que ainda conseguisse falar com Ana, de que ela ainda, por um acaso, estivesse fora do saguão de embarque.
Ouvi o anúncio de que o embarque para o voo já havia começado, enquanto eu estava na entrada do saguão.
"Ei, amigo!" Eu disse para o funcionário que estava na entrada.
"Pois não?"
"Eu preciso muito falar com uma amiga minha que vai pra Londres. O voo dela parte daqui a pouco, as 11:30, e se ela for embora, eu não vou ter outra chance."
"Olha, senhor..." Ele me disse franzindo a testa."Desculpe, mas o embarque para este voo já começou."
"Deixa eu ir até lá, por favor!"
"Desculpe, mas o Senhor não pode entrar. Infelizmente não posso ajudá-lo."
"Você pode pedir pra alguém me acompanhar. Não vou fazer nada demais, só preciso muito falar com ela."
"Senhor, ela já deve estar dentro do avião. Não posso deixá-lo entrar. Não insista."
"Droga!" Chutei o chão, levando as mãos a cabeça. Corri até ali pra nada. Minha tristeza se fundiu a raiva, eu queria gritar. Queria quebrar tudo aquilo que via pela frente, mas de que me adiantaria? Nada adiantaria. Nada traria Ana de volta. Nada faria com que eu me sentisse melhor.
Quando meu mundo desmoronou, quando eu não sabia mais como reagir eu ouvi meu nome:
"Marco?"
Lá estava ela. Pra variar, tremendamente atrasada. Naquele momento anunciaram a última chamada para o embarque daquele voo.
"Ana!"
"Se você veio se despedir seja rápido, como você pode ver, estou atrasada."
Sabia que não podia perder tempo, tinha de ser direto.
Fui até Ana, segurei seus braços e olhei em seus olhos.
"Por favor, não embarque."
"Já é muito tarde pra esse seu pedido."
"Por favor! Se for por minha causa, não vá. Eu prometo ficar longe de você, mas pra outro país? Não! Ana, fica."
"Não tenho motivos pra ficar aqui."
Era patética minha tentativa de convencê-la. Não tinha bons argumentos, e como estava em um relacionamento com Rita, não podia simplesmente fazer uma declaração amorosa.
"Você tem sua família, seus amigos, a empresa."
"Eu já cuidei de tudo isso, Marco."
"De todos eles, mas e eu?" Disse em um tom melancólico.
Ana balançou a cabeça, moveu os lábios como se fosse dizer algo, levou a mão a cabeça e desviou o olhar do meu.
"Eu não posso fazer nada a seu respeito."
"Por que você não me contou?"
"Porque você iria fazer justamente o que está fazendo agora. Tentar me impedir."
"Claro que não!"
"Claro que sim! Eu te conheço. Marco, honestamente, por que você quer que eu fique?"
Ela apertou os olhos e me encarou de uma maneira que fez parecer como se pudesse ler minha mente. Eu sabia o que ela gostaria de ouvir, mas eu não podia dizer.
"Eu preciso de você, Ana."
Foi o melhor que eu pude fazer pra convencê-la.
"Por que precisa de mim? Você pode se virar sem mim."
Eu fiquei mudo. Eu queria dizer, mas não podia. Não devia. Aliás, não devia estar ali. Vi uma lágrima se formar no canto do olho esquerdo dela. Ana levou as mãos aos olhos e enxugou as lágrimas antes que escorressem.
Ela veio em minha direção, se ergueu na ponta dos pés e beijou minha bochecha.
Senti o perfume de Ana, como há tempos eu não sentia. Senti o calor dela, o frio na barriga com a aproximação. Todas aquelas sensações voltaram e eu resistia a todos os meus impulsos.
Então ela sussurrou em meu ouvido.
"Adoro quando você usa esse perfume. Adeus, Marco. Eu amo você."
Ela entregou seu bilhete de embarque aquele rapaz que não me ajudou muito, mas isso já não importava.
"Eu te amo, Ana." Proferi em um sussurro quase que inaudível quando ela se virou para me olhar tão triste já do outro lado, e eu a assistia caminhar com sua mochila nas costas. Então senti meus olhos marejarem, o nó se apertar na garganta e o estomago embrulhar.
Então meu celular tocou.
"Alô?"
"Marco, onde você está?"
Era Rita, a quem eu havia prometido ligar e ver pela manhã, mas havia esquecido completamente.

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