sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Rita e Marco. (Parte 12)


"Ei, Deus! Se você pode me ouvir, preciso de uma ajuda. Esses dramas amorosos realmente desgastam e eu não sei o que fazer agora."
"Com quem ocê tá falando, Marquinho?"
"Eu só estava pensando em voz alta. Precisando de uma ajuda, tio."
Meu tio caminhou até mim, colocou a mão no meu ombro e deu uma risada. "Vamo sair dessa chuva." Fomos correndo até uma espécie de estábulo, onde ficavam dois cavalos que meu tio criava pra nos refugiarmos da chuva.
"Problema com mulher, fio?"
Eu dei um sorriso de canto.
"É. Mulheres complicadas."
"É, Marquinho... Ah, minha primeira mulher... Ninguém entendia porque eu nunca tinha deixado ela. Eu casei sabendo dos 'pobremas' que ela tinha, que a gente nunca iria ter filho, casei porque a amava demais aquela mulher. Devo dizer que mesmo doente, ela era linda, rapaz!" Os olhos de meu tio brilhavam ao falar de sua falecida esposa. Parecia até que ele podia enxergá-la ali. "Eu só não me mudei daqui porque ela amava esse lugar, sabia?!"
"É mesmo, tio? Realmente não imaginava isso."
"Tem coisa que a gente não entende, mas pode acreditar que sempre depois de uma tempestade dessa, o sol volta, Marquinho. Essa chuvarada toda só serve pra limpar o céu."
"Uma chuva não dura pra sempre, não é mesmo, tio?" Eu sorri, enquanto sentava em cima de um monte de feno. Meu tio se sentou no chão ao meu lado.
"Eu só não entendo, como um cabra bonito igual ocê, trabalhador, com a vida feita, tá sozinho. Essa mulher que não te quer deve ser louca, fio."
"Tio, não exagere." Eu sacudi a cabeça, sorrindo. "Mas ela me quer, sim. Só acha que não pode ficar comigo."
"Uai, como assim?"
"É uma longa história. Eu só me meto em triângulos amorosos."
"Tu gosta mesmo dessa mulher?"
"Demorei um pouco pra perceber, mas eu gosto demais."
"Então, se ela gosta d'ocê é só mostrar pra ela que ocêis tem que ficar junto, sobrinho."
"Queria que fosse simples assim."
"Mas é, Marquinho. Se ela te ama, vai ser burrice te largar, fio." Meu tio sorriu pra mim, enquanto apertava meu ombro. "A chuva já parou. Vamo volta pra lá."
Minha mãe conversava amistosamente com a mulher de meu tio, como se fossem amigas de longa data, sorrindo e compartilhando histórias de suas vidas. Meu irmão estava com todos os filhos de meu tio a sua volta, exibindo seu PSP e eles.
Achei melhor partirmos, já que estava escurecendo. Nos despedimos de todos, meu irmão os convidou para irem a nossa casa qualquer dia, meu tio me emprestou uma de suas camisetas para não ter que vestir aquela suja novamente. Confesso que esse passeio até me fez bem. Eu não estava mais angustiado quanto a Rita. Eu só queria que ela fosse feliz, mas é claro que eu queria deixar bem claro que poderia fazê-la tão feliz quanto ela merecia ser, e se Ivan pudesse fazer o mesmo, eu só poderia desejar que eles fossem felizes.
Caio cochilou no banco de trás. Então minha mãe me fitou e perguntou:
"Escuta, você não vai me contar quem é ela?"
"Como assim?"
"A moça que te faz rir em um dia e em outro te faz ficar mau humorado."
Ambos rimos, enquanto ela passava a mão em meus cabelos.
"Ah, mãe, não tenho sorte com mulheres. Elas não me querem!"
"Filho, não diga isso. Você vai encontrar uma moça que goste de você."
"E o que acontece se eu encontrar uma que goste, mas não quer ficar comigo?"
"Marco, se ela gosta, então ela quer ficar com você. Ela só precisa se decidir."
"Infelizmente tem outro cara na jogada."
"Se ela realmente gostar, vocês vão ficar juntos. Se não, é porque ela nunca gostou realmente de você."
"É, tem razão."
Minha mãe se inclinou e beijou meu ombro.
"Você vai ser feliz, meu filho."
Eu sorri para ela e fomos em silêncio até em casa.
Paz, eu estava definitivamente em paz. Só tinha uma coisa que eu tinha que fazer.
Apesar de ser tarde e estar extremamente cansado, deixei meu irmão e minha mãe em casa, fui até o jardim da Dona Beatriz e peguei uma outra tulipa vermelha.
Fui até a casa de Rita, escrevi um bilhetinho em um pedaço de papel que encontrei na minha mochila.

"De toda felicidade que eu poderia desejar a nós, eu a desejo a você. Levo sempre no coração! Com amor, Marco."

Toquei o interfone, o porteiro atendeu:
"Pois não?"
"É o Marco, amigo de Rita."
"Rapaz, você tem uma mania de visitar tarde as pessoas."
"Eu só queria deixar uma coisa aqui na portaria pra ela."
Ele desceu até o portão para pegar o bilhete e a flor. Voltei para casa, sem deixar a ansiedade sucumbir a minha sensação de tranquilidade.

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"Ei, você está com os pés gelados."
"Esquenta eles pra mim?"
Apesar de não abrir os olhos para ver, eu sabia que Rita estava sorrindo.
"A gente precisa levantar."
"Não a gente não precisa." Eu sussurrei em seu ouvido, beijando sua orelha e a puxando pra mais perto.
"Você sabe que não dá pra ficar aqui o dia inteiro."
"A gente pode tentar. Tá frio lá fora." Eu disse a abraçando pelas costas, beijando sua nuca e sentindo seu cheiro.
Rita se virou, deslizou as mãos pelos meus cabelos e me beijou. Ah, e a sensação que os lábios macios dela me provocavam é tão difícil de descrever.
Então ela se esquivou de mim, e eu tentava a puxar de volta, enquanto a ouvia sorrir. Ela abriu as cortinas, permitindo que a luz do sol invadisse o quarto. Então eu me dei por vencido e resolvi abrir os olhos. Comecei a ver a silhueta de Rita, até enxergá-la nitidamente, com aquele gracioso cabelo despenteado, vestindo minha camisa e me puxando frenética e estranhamente pelo braço.

"Acorda, Marco! Acorda!"
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"Marco, já é quase meio dia! Você disse que ia levar mamãe até o mercado hoje."
Eu acordei com Caio me sacudindo.
"Leva você! Pega o carro... Me deixa dormir outra vez."
"Eu vou sair, cara."
"Se você levar eu te empresto o carro."
"Onde estão as chaves?"
Eu apontei pra escrivaninha.
"Valeu, irmãozão!"
Virei para o outro lado, na patética tentativa de voltar ao sonho. Lamentavelmente, só um sonho.

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