domingo, 23 de outubro de 2011

Rita, Marco e Ana. (Parte 13)



"Alô?"
"Ei, Marco. Já se esqueceu de mim?"
"Como se fosse possível. Como você tá?"
"Bem. E você?"
"Bem!"
"Fazendo o que de bom neste final de tarde?"
"Deitado no sofá, mudando de canal, tentando me convencer de que uma hora eu acho algo descente pra assistir." Ana sorriu. "E você, fazendo o que?"
"Estava pensando em você, então resolvi ligar. Afinal, são quase 4 dias sem sinal de vida seu."
"É, foram dias corridos. Exceto hoje."
"Você realmente está apaixonado." Ouvi mais uma vez o riso de Ana. "Pra não ter me mandado nem uma mensagem, só pode ser."
"É, eu devo estar mesmo. E nem é por você. Só que eu to precisando de uma amiga."
"Hum... Vou pensar no seu caso."
"Poxa vida! Pensar? Vou pegar o moleton que você me roubou de volta."
"Você disse que não se importava se eu ficasse com ele. Nem vem!"
"Vou começar me importar se você continuar essa amiga negligente e vingativa." Eu ri, estava com saudades de conversar assim com Ana.
"Tudo bem. Do que você precisa?"
"Quero conversar. Não tenho sorte no amor. Por mais perto que eu chegue, ele escapa. O amor deve ser alérgico a mim."
"Ai, Marco. Que drama! Que tal café da manhã as 8:00, amanhã?"
"Assim você me mata. De madrugada, praticamente. Eu vou me atrasar para o trabalho assim."
"Entra um pouco mais tarde. Eu sei que você pode."
"Tudo bem. Só espero que você não chegue de cara inchada."
"Olha só quem fala. Pelo que eu saiba é você que tem problemas pra se levantar, não eu."
"Esqueci que você me conhece. Droga!" Ambos rimos.
"Combinado. Até amanhã. Beijo, Marco. Não me dê um bolo."
"Jamais, senhorita. Beijo. Amanhã sem falta na padaria de sempre."

Confesso que cheguei um tanto atrasado na padaria. Percebi a irritação de Ana só pela forma como ela me olhava enquanto me aproximava, afinal eu nunca chegava atrasado aos nossos encontros. Sentei-me ao lado dela no balcão.
"Desculpa." Sussurrei.
"Tudo bem. Foram só 28 minutos de atraso." Ela disse com um tom sarcástico.
"Bem, eu ainda tenho uma dívida de mais de 10 horas de atrasado pra compensar contigo pelos teus atrasos."
"Agora vai ser assim?" Ela me fitou, sorrindo ironicamente. Eu ri e sacudi a cabeça.
"Claro que não. Você sabe, ainda amo você. Mesmo depois de tudo. Acredite."
"Então, você vai querer o de sempre?"
"Sim. E você?"
"O de sempre."
"Tem coisas que não mudam."
"Ei, amigo!" Estalei os dedos para chamar o garçom. "Dois pães de queijo, dois pães na chapa, um café preto com açúcar e um suco de laranja sem gelo e sem açúcar."
"Impressionante, você ainda lembra? Faz anos que não tomamos café juntos aqui."
"Você ficaria impressionada com a quantidade de coisas que eu sei sobre você."
"Eu acredito. Então, conte-me. O que se passa?"
Virei para olhar Ana. Os cabelos castanhos que emoldurava seu delicado rosto, a testa franzida, apoiando o queixo sobre a mão, esperando o meu relato dos últimos acontecimento da minha vida amorosa.
"Você não vai acreditar, mas depois da nossa conversa, eu estava decidido a ir atrás de Rita e me declarar, e eu fiz isso."
"Então? O que aconteceu?"
"O problema foi que na sexta-feira ela não apareceu na empresa. Então eu fui atrás dela. A encontrei no hospital."
"O que aconteceu?" Ana arregalou os olhos.
"Nada com ela. Mas o ex noivo acordou do coma. O cara tinha sofrido um acidente há um ano atrás e estava lá, vegetando. Quando ela resolve seguir com a vida, ele acorda."
"Marco, meu amigo, você tem um azar."
"Nem me fale. Então fomos conversar e ela disse que gostava de mim, mas resolveu deixar pra lá quando descobriu que eu era apaixonado por você. Que fique claro, eu era! Então, eu também me declarei e quando ela me pediu pra ir embora eu a agarrei. Nós nos beijamos e foi tão intenso aquilo, mas ela não mudou de ideia. Enfim, eu disse que não desistiria dela, só que eu não vou ficar insistindo. Não vou correr atrás, sabe?"
"Nossa, Marco! Que situação. Sabe, se ela gosta de você, ela virá atrás."
"Minha mãe disse o mesmo. Só espero conseguir conviver com a ideia do 'se ela não vier'. A gente acha que já está calejado de desilusões, mas elas sempre machucam da mesma forma, as vezes até mais."
"Ei, não fica assim. Olha só pra você? Está lindo, é um cara incrível e vai encontrar alguém que te valorize como eu não fiz, e que goste de você sem deixar com que o passado interfira isso." Ana inclinou a cabeça para me olhar gentilmente, enquanto segurava minha mão. "Agora beba seu café antes que esfrie."
"Você falou como a minha mãe." Eu sorri para Ana.
"Não vá me confundir com ela, então."
"Tarde demais."
"Ei!" Ana me deu uma cutucada.
"Minha mãe é uma linda e maravilhosa mulher, nunca partiu meu coração."
"Ui, essa doeu."
Colocamos parcialmente a conversa em dia. Depois de uma série de conselhos, ela contou sobre o novo espetáculo do qual está participando. Terminamos o nosso café.
Então me levantei do balcão e dei um beijo na testa de Ana, enquanto ela repousava as mãos sobre o meu peito. Foi então que eu não pude acreditar no que estava acontecendo pela segunda vez comigo. Quando olhei, Rita estava do outro lado do balcão. Lembrei que Rita morava há uma quadra daquela padaria, e que eu era um cara extremamente azarado, ou talvez tudo conspirasse pra que eu realmente fracassasse sempre. Toda aquela sensação de pânico que eu tive ao encontrar Ana no shopping quando estava com Rita começou vir à tona, mas agora ao contrário. Dessa vez era pior. No caso de Ana, eu nunca havia tido nada com ela, não passava de sentimento. Com Rita eu já havia tido contato. Parecia que meu coração iria rasgar o peito com sua palpitação desgovernada. Ana logo notou pela minha súbita palidez e olhar de caos que Rita estava ali.
Rita, simplesmente se virou e saiu da padaria.
Eu queria correr atrás dela, olhei para Ana sem saber se deveria ir ou ficar.
"Vá atrás dela! Não fica me olhando com essa cara."
Dei um beijo na bochecha de Ana.
"Eu te ligo!" Eu disse enquanto corria atrás de Rita.
Rita tentou se apressar, mas o farol aberto do cruzamento impediu que ela atravessasse antes que me aproximasse mais, então pude chegar até ela.
"Rita..." Eu tentava recuperar o fôlego. "Precisamos conversar."
"Já conversamos, Marco. Você se lembra?"
O farol de pedestres ficou verde, mas eu segurei Rita pelo braço antes que ela prosseguisse.
"É sério, Rita."
"Você deixou aquele bilhete pra mim por desencargo de consciência? E eu achando que você gostava de mim, que eu realmente deveria..." Rita cortou a frase no meio e sacudiu a cabeça. "Bem, não importa. É claro que aquilo foi uma despedida."
"Você deveria o que? Rita, olha pra mim. Eu só estava conversando com Ana. Somos amigos. Não temos nada, aliás, eu estava conversando sobre você. Isso não é justo."
"Justo? Você ainda gosta dela, não é?"
"Gosto, mas agora as coisas mudaram. Meu sentimento por ela é bem diferente." Rita cruzou os braços, enquanto batia o pé freneticamente. "Como você acha que eu me senti quando vi você no hospital ao lado daquele tal de Ivan? Eu e Ana nunca tivemos nem se quer um beijo. Nunca passou de amizade, por mais que eu tivesse gostado dela. Agora com você as coisas são diferentes."
Rita descruzou os braços, sacudiu a cabeça e me fitou com uma expressão conflituosa.
"Eu não sei porque estou agindo assim. Eu que te mandei embora aquele dia, não é mesmo? E se você quisesse estar com outra pessoa, eu não sou sua dona. O que eu tenho a ver com isso? Agora eu estou com o Ivan. Eu fiz minha escolha. Eu..."
Enquanto ela desabafava, eu vi as lágrimas se formarem em seus olhos. Eu me aproximei, Rita inclinou a cabeça e a repousou em meu peito, com as mãos cobrindo o rosto pra que eu não visse as lágrimas dela. Então eu a abracei e senti suas mãos se abrirem sobre o meu peito e suas lágrimas, que molhavam minha camisa.
"Marco, eu não sei o que fazer. Ivan está muito mal"
"Ei, tudo vai ficar bem. Eu prometo."
Ela se desvencilhou do meu abraço, se afastou e disse:
"Eu não posso. Você deveria ficar com Ana. Eu preciso cuidar do Ivan."
"Mas o que aconteceu, ele não está se recuperando?"
"Provavelmente ele não volte a andar."
Isso era mais dramático do que eu poderia imaginar. Como negar o pedido de alguém arrependido em tais circunstâncias? Ela voltou a chorar. Eu a abracei novamente.
"Eu vou ajudar no que for preciso. Conte comigo."
"Marco, não. Eu não posso te ter por perto."
"Por que?"
Rita ergueu a cabeça e me encarou.
"Porque eu estou completamente apaixonada por você."
Ela abaixou sua cabeça. Eu não pude resistir mais quando Rita disse isso. Então, gentilmente ergui o rosto de Rita para olhar em seus olhos. Afaguei seu rosto e deixei toda emoção daquele momento fluir por cada parte do meu corpo, até tomar conta de mim por completo e, finalmente, tão emergentes, nossos lábios se encontraram mais uma vez.

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