quarta-feira, 18 de abril de 2012

Do outro lado.


Um dia você ainda há de se deparar do outro lado. Vulnerável, fraco e machucado.
Você vai se perguntar como o feio, vazio e descolorido pode ganhar assim teu coração.
De repente as formas e as cores preencheram aquele espaço onde nada havia. Já não há possibilidade de se viver sem reconhecer o quão cativo a tudo isso seu coração se tornou.
Toda a existência negligenciada, todo engano, todo descaso e toda omissão. Agora é você quem está do outro lado, provando o fel do teu impiedoso descuido, do turbilhão de caos em lágrimas alheias que se amontoaram no teu cálice. Gole por gole, sem apressar-se, mas sem pestanejar. Por vezes você irá prender sua respiração, na patética tentativa de tapear o paladar, deixar o líquido viscoso e amargo escorrer goela abaixo.
Beirando a loucura com tantas perguntas acerca do infalível mal sucedido plano. Ser castigado por lembranças que irão se destrinchar em cada palpitar do seu coração, cada vez que o ar inflar seus pulmões.
Então você irá notar que só está cumprindo sua pena, em uma jaula de sentimentos e memórias que nem tão cedo irão se dissipar.
Em meio a todo seu orgulho, em meio a toda mentira a qual se submeteu, em meio a todo desencontro e todo seu esforço para evitar o inevitável desabrochar deste, hoje, pesaroso sentir, você há de fechar os olhos e lembrar daquele reflexo no final da descida, do apego infindável, da música que agora só você pode ouvir, da noite morna, de um olhar apertado, de um calor incessante e do vento frio, embalando todo esse seu amor salpicado de gotículas de nuvens de algodão, que mesmo em frente a este rascunho, sujo e amassado, fazem crescer sua esperança de o reescrever melhor dessa vez.

Agora você também já sabe, a dor de amor nunca é sempre tão fácil. Um dia todos vão se sentar do outro lado. Ninguém nessa vida passa ileso.

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