domingo, 15 de janeiro de 2012

Lana e Cadu. (Parte 4)


Depois de receber aquele sorriso, difícil não me sentir um tanto desconcertada.
Lá vou eu, voltar ao meu patético drama amoroso.
Pude ver Cadu com o vidro do carro abaixado e o celular ao ouvido. Seus cabelos de um negro intenso, extremamente lisos e desfiados. Lançou aquele olhar verde por cima dos óculos escuros e fez uma careta de desaprovação. Isso me fartava! Não entendia porque eu fui acabar me apaixonando por alguém assim.
Entrei no carro, Cadu entretido demais em sua conversa ao telefone, com alguma garota qualquer, não disse ao menos olá.
Abaixei minha janela, tentei disfarçar o incomodo causado pela indiferença de Cadu, o ciúme que me corroía em pensar que alguns dias atrás ele falava comigo da mesma forma ao telefone.
Deixei o vento me acalmar e tentei me distrair com as paisagens urbanas no caminho para o estúdio.
Entramos, sem muita cerimônia, e também sem quebrar aquele protocolo social dos cumprimentos impessoais em um ambiente de trabalho. Fomos logo a sala de Cadu para falar sobre o roteiro.
"Você escreveu tudo isso a mão?"
"Ah, meu notebook de repente se revoltou conta mim."
"Hummm... Entendi."
Esperei alguns instantes enquanto Cadu, com sua leitura dinâmica, analisava o conteúdo.
"Lana, o que acontece com você? Que roteiros mais fracos são estes que você tem me entregue estes últimos dias!"
"Mas, Cadu... Só segui a lógica da trama que você me propôs."
"Só que ficou ruim! Faz o seguinte, senta aqui na minha mesa e você tem o dia inteiro pra desenvolver algo."
"Ei, eu tenho outros compromissos hoje... Não posso ficar aqui o dia inteiro!"
"Então, faça algo logo e eu te dispenso para os seus outros compromissos se estiver satisfeito!"
Senti minhas mãos formigarem, o rosto subitamente se aquecer e os dentes cerrarem.
"Eu não vou escrever mais nada! Se você acha ruim, então deve ter a ideia de algo melhor. Escreva você de agora em diante!"
Cadu me fitou de olhos arregalados, tentou dizer algo e gaguejou. As palavras não lhe saíram bem como esperava.
Cansei da forma como ele me tratava. Peguei minhas coisas e saí de lá.
Haviam inúmeras produções me enviando constantes convites, não precisava daquilo.
Embora, o que me doa, é que Cadu tinha certa razão. Não sei porquê, mas havia perdido um pouco da inspiração. Talvez estivesse em um crise criativa, talvez os sentimentos perturbadores em relação a ele estivessem me atrapalhando nisso, talvez eu devesse dar um tempo de escrever e tirar umas férias. Foi então que ao chegar em casa, meu computador milagrosamente resolveu ligar na primeira tentativa, usei toda minha frustração e escrevi uma nova história, a qual ninguém colocaria defeito e mesmo que o fizesse, eu também não me importaria.

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Dedicado à memória de quem a chuva traz a lembrança. <3

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