terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ana e Marco. (Parte 9)



Nós tínhamos muita história juntos. É engraçado olhar todas as nossas fotos juntos no mural de Ana, trazer todas as memórias sem sentir saudades dos tempos em que o gostar era simples, mesmo que não fosse correspondido. Só importava estar por perto.
"Jamais iria dar certo, não é mesmo? Eu e você?"
Conversávamos deitados sobre o tapete bucana branco macio do quarto de Ana, enquanto nossas mãos estavam entrelaçadas, depois de contermos algumas lágrimas até não conseguirmos mais.
"Talvez nós tenhamos nascido somente pra ser bons amigos."
"Sabe, eu fui apaixonado por você todo esse tempo e nunca tive coragem de dizer. Depois que nos vimos no shopping, eu tinha que falar com você de alguma maneira. Fiquei tão desesperado, mas a Rita me fez perceber algo que eu não tinha notado."
"Marco, só agora eu percebo como eu fui superficial. Queria estar com caras maravilhosos e ter você por perto pra suprir uma carência mais profunda de companheirismo, de amizade, de cuidado, proteção, afeto e me envolver com caras vazios, só por beleza... Bem, mas agora ela te fez perceber que você é um gato. Dizem que uma mulher transforma um homem." Ana riu e me fez rir também. "Só quero ressaltar que descobri o que sinto por você depois daquele abraço, antes de te ver assim."
"Então você gostou? Disseram que eu iria fazer sucesso com as mulheres mesmo."
Ana deu uma gargalhada e se encolheu junto a mim, repousando a cabeça sobre o meu ombro.
"É bom estar com você, tão bom que eu quase havia me esquecido da sensação. Só que eu tenho que aceitar que você tem que partir."
"Não vou partir. Só que agora eu tenho um novo amor. Nós ainda iremos cantar "lança perfume" em voz alta em dias de fossa." Comecei cantar em falsete: "Oh, lançaaa... lança perfume."
Ana continuava a gargalhar, quando a vi enxugar as lágrimas. Era como um rompimento de algo que nem se quer havia começado, mas sabíamos que precisamos continuar só caminhando como amigos. Eu sempre iria amá-la, mas percebi que deveria amá-la de outra forma.
Eu envolvi Ana em meus braços, a trazendo pra mais perto, olhei em seu rosto e a ajudei enxugar as lágrimas, enquanto a senti afagando meu rosto para enxugar as minhas.
"Então, nunca vai haver Ana e Marco?"
"Ana, você teve todas as chances. Meu coração sempre foi seu, mas eu tive que pegá-lo de volta pra curá-lo, e sem perceber encontrei alguém que você sabe que tem feito bem a ele." Ana se levantou e sentou com as pernas cruzadas. Deixou seus cabelos caírem cobrindo rosto enquanto abaixava a cabeça pra que eu não visse como ela chorava. Eu me levantei e sentei encostado a sua cama. A puxei de volta pra mim, e a abracei. Dei-lhe um beijo na testa. "Nós vamos ser felizes. Você vai ser feliz. Só que você deixou pra se decidir sobre mim quando já não posso ser mais seu. Agora você tem que esperar por outro alguém."
"Eu sei... Mas, e agora? Eu não sei como lidar com isso. Você era meu melhor amigo e... eu te fiz tanto mal."
"Ei, sei que não foi de propósito. Você não tem obrigação de gostar de alguém porque esse alguém se apaixonou por você. Olha só pra você! Só idiotas não conseguem se apaixonar por alguém assim." Sim, eu me referia a Pedro, aquele ex que acabou com ela por alguns meses. "E você, sabe, não deixo de te amar por isso. Só vou amar como eu sempre deveria ter amado."
"Eu perdi você." Seu olhar melancólico, formando novas lágrimas, fizeram meu coração se apertar enquanto eu resistia aos meus instintos, por conta de toda intensidade do momento. Não podia sucumbir a emoção daquele quarto. Eu tinha que ser racional, ao menos uma vez, ao menos dessa vez.
"Eu nunca fui seu. Nem você minha. Tudo que temos agora é o que sempre tivemos e sempre teremos. Nossa amizade, nosso senso de humor, nossas histórias, nossas memórias e nossos momentos."
"Eu me sinto tão burra por ter desperdiçado o que nós poderíamos ter construído. Enfim... Que Rita te faça muito feliz, se não..."
"Se não?"
"Sempre poderemos cantar "lança perfume" em dias tristes." Eu sorri novamente em meio algumas novas lágrimas que se formavam e eu resistia a elas.
"Eu amo você."
"Eu amo e sempre acabo amando você, Marco."
"Eu sei! Esse corte de cabelo provoca esse efeito."
Rimos juntos e Ana deu um leve tapa em meu ombro, logo em seguida se debruçando novamente sobre ele, e se encaixando em meus braços. Enquanto eu guardava as últimas lembranças desse momento. Seus longos e lisos cabelos castanhos, ondulados nas pontas, caindo sobre seu ombro, e eu os colocava atrás de sua orelha para enxergá-la. A pela dourada, os olhos cor de mel e seus longos cílios. Seus lábios torneados e bem desenhados. Até o nariz de Ana era gracioso, hormonizando perfeitamente a simetria de seu rosto. Mas devo admitir que mesmo ali eu estava ansioso para correr até Rita. Infelizmente já era tarde. Desde a hora em que liguei para Ana, resolvi ter esta conversa, eu só queria vê-la novamente, agora com todos os meus dilemas amorosos resolvidos. Eu precisa dormir para trabalhar no dia seguinte também.
"Acho que eu preciso ir."
"Só mais um pouco!"
Beijei a bochecha de Ana, a abracei por alguns segundos. Nos olhamos fixamente por alguns instantes.
"Me deseje sorte, ok?"
"Sorte?"
"É, com Rita."
"Não preciso desejar sorte. Ela te beijou deliberadamente, Marco. Nem deixou chances pra mim."
"Um detalhe que fez toda a diferença."
"Vocês já tem a sorte de terem um ao outro."
"Nós também temos. Quantos amigos como nós a gente conhece?"
"Somos únicos." Ana deu um sorriso que iluminou seu rosto.
"A gente se vê em breve."
"Claro. Você precisa me manter informada das novidades do seu novo romance."
"Deixa comigo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário