domingo, 18 de setembro de 2011

Ana e Marco. (Parte 3) - Abraço.


"Nós não podemos começar a viver que elas voltam." - Lucas Diogenes

"Ana"

O começo do namoro de Ana, como todo começo de namoro, era extasiante. Seu namorado, Pedro, era tudo em que ela pensava. Não tudo, mas na maior parte do tempo.
Como toda garota apaixonada, Ana não conseguia disfarçar a ansiedade por receber alguma notícia, alguma mensagem, algum e-mail, algum recado, alguma ligação, qualquer sinal de vida de Pedro. Claro que ela gostaria que isso viesse acompanhado de algum mimo.
Infelizmente, nessa história, alguns inconvenientes surgiram.

Ah, Pedro. Fazia Ana de tola. O pior era que ela sabia. Pior ainda era saber e ignorar. Pior do que estas duas coisas eram suas utópicas verdades e subterfúgios, tão convictos, para anestesiar, talvez, a dor causada pela real verdade de toda situação.

Como dizem: Não há nada ruim que não possa piorar.
Sim, Ana aprendeu isso da forma mais desagradável.

A verdade era que Pedro não fazia muita questão de Ana. Sim, a princípio ele gostava dela. O grande problema de tudo era a irreciprocidade. A falta de sintonia. Era como se Ana estivesse em uma frequência sentimental e ele em outra.

Ela tentou com todas as forças não acreditar que não era correspondida a altura. Tentou acreditar que não havia nada de errado com Pedro. Foram tantas omissões e negações que a situação saiu fora de controle.

Inegavelmente incomodada, resolveu conversar com Pedro sobre a situação.

- Não estamos bem.
- Você quer terminar?
Pedro disse tão naturalmente, que deu a impressão de que ele não iria lutar por ela. Ele não iria ao menos tentar.
Ana mal podia acreditar no que ouvirá, mas, por outro lado, não era tão surpreendente. Ela sentia a indiferença dele. É, graças a essa sensibilidade feminina que a faz saber se alguém está interessado nela, ou em qualquer outra, exceto ela. Percepção esta que Ana gostaria que se ausentasse em determinadas situações.
- Essa é a sua solução? Então, você também não está feliz.
- Eu sei que as coisas não estão bem entre nós, Ana. O problema é que estou enfrentando uma fase difícil.

Fase difícil: Desculpa que os homens usam para explicar seu desinteresse em uma relação.

- Pedro, eu estou aqui para te apoiar. Ajudar no que for preciso. Você sabe que pode compartilhar as coisas comigo. Por que não faz?
- Você não precisa saber dos meus problemas.
- Não preciso? Então não vou te importunar com os meus, já que esse é seu pensamento. Achei que um relacionamento servia pra compartilharmos qualquer tipo de coisa.
- Ah! - bufou, Pedro - Agora você vai começar com estas cobranças. Eu realmente não acho que esteja em débito com você. Não sou ruim pra você. Faço tudo que está dentro das minhas possibilidades pra este relacionamento dar certo.
- Dentro das suas possibilidades? Então até mesmo uma ligação está fora das suas possibilidades, porque nem isso você faz!
- Nossa, quando você quer me irritar você consegue.
- Vim conversar com você, Pedro. Infelizmente, você conseguiu transformar isto em uma discussão.
- Então, Ana, viva sua vida! Eu vou seguir com a minha, pois eu estava muito bem até você vir com essas insinuações de que eu sou o responsável por estarmos enfrentando uma suposta crise.

Ana não podia acreditar no que ele estava dizendo. Era totalmente inadmissível. Ela não pode conter as lágrimas que rapidamente transbordaram em seus olhos e deslizaram sobre seu rosto.

- Você tem noção do que está dizendo, seu insano? Eu não coloquei a culpa do insucesso do que estamos vivendo em você. Eu vim buscar uma solução! Você só usou isso como pretexto pra um desfecho. Você é um... um... Idiota, Pedro!

Ela desceu do carro. Bateu a porta com toda força que pode, para expressar sua raiva.
Raiva! Era esse sentimento que gritava mais alto dentro de Ana. Ela queria bater em Pedro, queria fazê-lo infeliz. Queria fazê-lo sentir sua dor. Mas ela sabia que tudo isso era errado e não melhoraria as coisas pra ela.

Após surrar alguns travesseiros, chorar e extravasar sua raiva nos objetos inocentes que encontrou pelo caminho, jogou-se na cama, ainda chorando e não pensou, simplesmente ligou para Marco.

Ana sabia que Marco gostava dela, mas também sabia que ele entendia que o único interesse dela era ter sua amizade.

Marco atendeu prontamente, como sempre.

- Ana!
- Marco, tudo bem?
- Sim! O que foi? Por que você está chorando?
- Acabou.
- Sério, Ana? Eu sinto muito. Eu vou até aí.
- Não precisa se incomodar. Eu só queria ouvir a voz de um amigo.
- Aposto que você precisa de um abraço amigo também.
- Marco, não vou dizer que não preciso, mas acho injusto fazer você sair de onde quer que você esteja pra vir até aqui.
- Amigos são pra todas as horas. Em 20 minutos estou aí.

Ana se perguntava como Marco podia ser tão bom com ela? Ela não sentia que merecia o carinho dele. Não entendia como ele gostava tanto assim dela, mesmo depois de se distanciar por conta do namoro.

Marco chegou a casa dela. A mãe de Ana o recebeu. Marco entrou, subiu as escadas até o quarto de Ana.
Vê-la foi como se sentir arrastado por um turbilhão de ondas de sentimentos que vinham a tona. Mesmo com olhos inchados, mesmo com os cabelos não tão penteados, a beleza de Ana ainda encantava Marco.

Ele ficou paralisado ao olhar para ela. Lembrou de como foi difícil lidar com a dor de vê-la com outro. Ao mesmo tempo sentiu raiva por alguém ter tido coragem de deixá-la nesse estado. Sinceramente, ele não sabia se deveria abraçá-la, mas não houve tempo de decidir.

Ao vê-lo, Ana lançou-se em seu peito, passando os braços por cima de seus ombros e acabando-se em lágrimas.

Marco hesitou, por um momento, mas o calor de Ana contra seu corpo não deixou que seus braços ficassem imóveis por muito tempo. Então ele logo a envolveu em seu afetuoso abraço.

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